terça-feira, 28 de fevereiro de 2012



EM BUSCA DA VERDADE

ACERVO : FERNANDO SILVA
EXTRAIDO DA OBRA DE : JOHN MACARTHUR ""Em Busca da Verdade""


A idéia de que a mensagem cristã deve ser mantida adaptável e ambígua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura e amam o espírito desta época, e não podem suportar que a verdade bíblica autoritária seja aplicada com precisão, como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamentos ímpios. E o veneno dessa perspectiva vem sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica.

Mas isso não é cristianismo autêntico. Não saber o que se crê (principalmente numa questão tão essencial ao cristianismo como o evangelho) é, por definição, um tipo de incredulidade. Recusar reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus um tipo específico de incredulidade obstinada e perniciosa. Defende ambiguidade, exaltar a incerteza ou, de qualquer forma,obscurecer verdade é um modo pecaminoso de nutrir a incredulidade.

Todo cristão verdadeiro deve conhecer e amar a verdade. As Escrituras afirmam que uma característica dos "que perecem" aqueles que estão condenados à perdição por causa de sua incredulidade) é que não acolhem "o amor da verdade para serem salvos" (2 Ts 2.10). A conclusão óbvia desse texto é que o amor genuíno pela verdade está embutido na fé salvífica. Esse amor à verdade é, portanto, uma das qualidades distintivas de todo crente verdadeiro. Nas palavras de Jesus, eles conheceram a verdade, e a verdade os libertou (Jo 8.32). Numa época em que a própria idéia de verdade está sendo desprezada e atacada, até na própria igreja, onde as pessoas deveriam tratar a verdade com a máxima reverência, o sábio conselho de Salomão nunca foi tão oportuno: "Compra a verdade e não a vendas" (Pv 23.23).

A História está repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em gerações anteriores, o fato de alguém dar a vida por aquilo em que cria era considerado um ato heróico. Isso já não é mais assim.

Parte desse problema deve-se ao fato dos terroristas e homens-bomba suicidas terem tomado posse da idéia de "martírio" e a distorcido. Eles se chamam de "mártires," mas são assassinos suicidas, que matam as pessoas porque elas não crêem. Sua agressão violenta é, na realidade, o oposto do martírio; e as ideologias implacáveis que os impulsionam são a antítese da verdade. Nada há de heróico no que fazem, nem há qualquer nobreza naquilo que defendem. Contudo, eles são símbolos relevantes de uma tendência profundamente perturbadora que contamina a geração atual, em todo o mundo. Hoje em dia, parece que não faltam pessoas dispostas a matar em prol de uma mentira. No entanto, poucas pessoas parecem estar dispostas a falar em prol da verdade - e muito menos a morrerem por ela.

Considere os testemunhos dos mártires cristãos no decurso da História. Eles eram valentes defensores da verdade. Não eram terroristas, nem violentos, é lógico. Mas "lutavam" pela verdade; proclamando-a em meio à oposição ferrenha; vivendo de um modo que testemunhava o poder e a graça da verdade; recusando-se a renunciá-la ou abandoná-la, não importando as ameaças que fossem feitas contra eles.

Esse padrão começa na primeira geração da história da igreja, com os próprios apóstolos. Todos eles, com a possível exceção de João, morreram como mártires. O próprio João pagou caro por manter-se firme na verdade, pois foi torturado e exilado por causa de sua fé. A verdade era algo que eles amavam, em favor do que lutavam e pelo que, finalmente, morreram. E passaram esse mesmo legado à geração posterior.
Inácio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros da verdade cristã na antigüidade. Ambos eram amigos pessoais e discípulos do apóstolo João; portanto, viveram e ministraram quando o cris-tianismo ainda era muito recente.

A História registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inácio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrifício público aos ídolos, como prova de sua lealdade à Roma. Inácio poderia ter poupado sua própria vida ao ceder diante daquela pressão. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressão, contanto que Inácio não negasse a Cristo em seu coração. Mas, para Inácio, a verdade era mais importante do que sua própria vida. Recusou-se a sacrificar aos ídolos, e Trajano ordenou que ele fosse lançado às feras, no estádio, para a diversão das multidões pagas.

Policarpo, amigo de Inácio, procurado pelas autoridades (por-que também era conhecido como líder entre os cristãos), entregou-se de espontânea vontade, sabendo muito bem que isso lhe custaria a vida. Levado a um estádio, diante de um público sedento de sangue.

Hoje, boa parte da igreja visível parece imaginar que os cristãos devem estar numa diversão e não numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrinária é algo bem distante do pensamento da maioria dos frequentadores e líderes  da igreja. Os cristãos contemporâneos estão determinados a fazer com que o mundo goste deles - e, é claro, nesse processo, querem também se divertir o quanto puderem. Vivem tão obcecados em fazer com que a igreja pareça "legal" para os incrédulos, que não se incomodam com o fato da doutrina dos outros ser sadia ou não.

Num ambiente como esse, a simples idéia de identificar o ensino de alguém como falso é uma sugestão desagradável e perigosamente anticultural; assim, o que se dirá do fato de "contender sinceramente" pela fé? Os cristãos "compraram" a noção de que quase nada é tão desagradável aos olhos do mundo quanto o fato de alguém demonstrar uma preocupação sincera em relação ao perigo da heresia. Afinal de contas, o mundo não quer realmente levar a verdade espiritual a sério; sendo assim, as pessoas não podem ima-ginar por que alguém faria isso.

No entanto, nos dias de hoje, a maioria das pessoas alega crer no Deus da Bíblia, mas, apesar disso, afirmam que estão incertos acerca do que venha a ser a verdade. Uma apatia sufocante a respeito do conceito de verdade domina boa parte da sociedade contemporânea incluindo um segmento cada vez maior do movimento evangélico.

Certos evangélicos "vanguardistas" agem, às vezes, como se o falecimento da certeza fosse um novo desenvolvimento intelectual sensacional, em vez de o perceberem como ele realmente é: um eco da velha incredulidade. Trata-se da descrença disfarçada com uma capa de religiosidade, buscando legitimidade, como se fosse meramente um tipo mais humilde de fé. Mas isso não é fé de modo algum. Na realidade, a recusa contemporânea em considerar qualquer verdade como certa e segura é o pior tipo de infidelidade. O dever da igreja sempre tem sido o de confrontar semelhante ceticismo e refutá-lo mediante a proclamação clara da verdade, que Deus revelou em sua Palavra. Ele nos deu uma mensagem clara, com o propósito de confrontarmos a incredulidade do mundo. Fomos chamados, ordenados e comissionados a fazer isso (1 Co 1.17-31). A fidelidade a Cristo o exige. A honra de Deus assim o requer. Não podemos ficar sentados, sem fazer nada, enquanto atitudes mundanas, revisionistas e céticas a respeito da verdade se infiltram na igreja. Não devemos aceitar tal confusão em nome do amor, do coleguismo ou da união. Precisamos nos manter firmes e lutar pela verdade — estar dispostos a morrer por ela — como os cristãos fiéis sempre têm feito.

Toda tentativa de definir a verdade em termos não bíblicos tem falhado. Isso acontece porque Deus é a origem de tudo o que existe (Rm 11.36). Somente Ele define e delimita aquilo que é verdadeiro.

Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reveladas na natureza são de sua autoria (Si 19.1-6); e algumas dessas verdades são a auto-revelação do próprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciência para percebermos a verdade e entendermos o certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coração (Rm 2.14-15). E, acima de tudo, deu-nos a verdade perfeita e infalível das Escrituras (SI 19.7-11), a qual é uma revelação suficiente para tudo o que diz respeito à vida e à  piedade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor.

Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporação da própria verdade, como o clímax da revelação divina (Hb 1.1-3). E a principal razão para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, começa com a verdade concernente a Deus: quem Ele é; o que a sua mente sabe; o que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda noção de sua inexistência é, pela própria definição, inverdade. É precisamente isso que a Bíblia ensina: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1; 53.1).

As ramificações de toda a verdade que começa em Deus são profundas. Voltando a uma consideração anterior: essa é a razão por que, uma vez que alguém negue a Deus, a coerência obriga-o, enfim, a negar toda a verdade. Negar a existência de Deus remove, num só instante, toda justificativa para qualquer tipo de conhecimento. Conforme dizem as Escrituras: "O temor do SENHOR é o princípio do saber" (Pv 1.7).

claro que a existência da verdade absoluta e seu relacionamento inseparável com a pessoa de Deus constituem o princípio mais essencial de todo o cristianismo verdadeiramente bíblico. Falo com franqueza; se você é uma pessoa que questiona se a verdade é realmente importante, peço-lhe que não chame o seu sistema de crenças de cristianismo", porque ele não o é.

O fato de que os crentes de nossa geração precisem ser lem-brados dessas coisas é estarrecedor. 

        COMO A VERDADE ESTÁ SENDO ATACADA NA IGREJA HOJE?

A clareza e a suficiência das Escrituras, o estado de perdição da humanidade não redimida e a justiça de Deus em condenar os pecadores são convicções antigas em todas as principais tradições do cristianismo histórico. 

Acontece, também, que estamos vivendo numa geração em que supostos cristãos não sentem o menor interesse por esse conflito e contenda. Multidões de cristãos subnutridos nas Escrituras e na doutrina chegaram a pensar que a controvérsia é algo que sempre deva ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse é o exemplo que muitos pastores fracos têm lhes dado.

Na igreja, nunca devemos apreciar ou nos envolver em controvérsia e conflito, sem motivos suficientes. Mas, em cada geração, a batalha pela verdade tem sido inevitável, porque os inimigos da verdade são implacáveis. A verdade está sempre sob ataque. E, na realidade, é um pecado não lutar quando verdades vitais estão sendo atacadas.

Isso é uma realidade, mesmo quando, às vezes, a luta resulta em conflito dentro da comunidade visível dos cristãos professos. De fato, sempre que os inimigos da verdade evangélica conseguem se infiltrar na igreja, os crentes fiéis são obrigados a batalhar contra eles. Essa é, certamente, a situação hoje, assim como tem sido desde os tempos apostólicos.

Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.

Segue-se, aqui, uma definição singela, extraída daquilo que a Bíblia ensina: a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a vontade, o caráter, a glória e o ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto-expressão de Deus. Esse é o significado bíblico de verdade; é a definição que emprego em todas as partes deste livro. Posto que a definição da verdade flui de Deus, a verdade é teológica.

Á verdade é também onlológíca - um modo requintado de expressar que a verdade é a maneira como as coisas realmente são.

A realidade é o que é porque Deus declarou que ela deveria ser assim e a fez dessa forma. Por isso, Deus é o autor, a fonte, o determinador, o governador, o árbitro, o padrão máximo e o derradeiro juiz de toda a verdade. O Antigo Testamento refere-se ao Todo-Poderoso como o "Deus da verdade" (Dt 32.4; SI 31.5; Is 65.16). Quando Jesus disse a respeito de Si mesmo: "Eu sou... a verdade" (Jo 14.6, ênfase acrescentada), Ele estava fazendo uma declaração profunda a respeito de sua própria divindade. Também deixou claro que toda verdade, em última análise, deve ser definida em termos de Deus e de sua glória eterna. Afinal de contas, Jesus é "o resplendor da glória [de Deus] e a expressão exata do seu Ser" (Hb 1.3). Ele é a verdade encarnada a expressão perfeita de Deus e, portanto, a corporificação absoluta de tudo o que é a verdade.

Jesus também disse que a Palavra escrita de Deus é a verdade. Ela não somente contém pepitas da verdade; ela é a verdade pura, imutável e inviolável que (segundo Jesus) "não pode falhar" (Jo 10.35). Jesus, orando ao seu Pai celestial, em favor dos seus discípulos, disse: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17). Além disso, a Palavra de Deus é a verdade eterna, "a qual vive e é permanente" (1 Pe 1.23).

É lógico que não pode existir qualquer discordância ou diferença de opinião entre a Palavra escrita de Deus (as Escrituras) e a Palavra encarnada de Deus (Jesus). Em primeiro lugar, a verdade, por sua própria natureza, não pode contradizer a si mesma. Em segundo lugar, as Escrituras são chamadas de "palavra de Cristo" (Cl 3.16). E a mensagem dEle, a auto-expressão dEle. Em outras palavras, a verdade de Cristo e a verdade da Bíblia são do mesmíssimo caráter. Estão em perfeito acordo, em todos os aspectos. Ambas são igualmente verdadeiras. Deus se revelou à humanidade por meio das Escrituras e por meio do seu Filho. Ambos expressam com perfeição aquilo que a verdade é.

Uma conclusão óbvia daquilo que estou dizendo é que, à parte de Deus, a verdade não significa coisa alguma. A verdade não pode ser explicada, reconhecida, entendida ou definida sem que Deus seja a sua fonte. Visto que somente Ele é eterno e auto-existente, e somente Ele é o Criador de todas as coisas, Ele é a fonte de toda a verdade.

Se você refletir sobre esse assunto com uma dose mínima de sobriedade, logo perceberá que até as distinções morais mais fundamentais — o bem e o mal, o certo e o errado, a beleza e a feiúra, a honra e a desonra — não têm qualquer possibilidade de possuir sentido verdadeiro ou permanente à parte de Deus. A razão disso é que a verdade e o conhecimento, por si mesmos, simplesmente não possuem uma relevância coerente à parte de uma origem fixa, ou seja, Deus. Como poderiam ser relevantes? Deus é, em Si mesmo, a própria definição da verdade. Qualquer reivindicação de uma verdade à parte de Deus é absurda.


          A GRANDE "MUDANÇA DE PARADIGMA"


Em tempos recentes, muitos intelectuais incrédulos têm reconhecido que a corrente está quebrada e resolveram que o culpado disso é o fato de que qualquer busca pela verdade é absurda. Com efeito, já abandonaram essa busca como se fosse algo totalmente fútil. Portanto, o mundo das idéias humanas está atualmente num estado grave de fluxo. Em quase todos os níveis da sociedade, estamos testemunhando uma mudança de paradigmas profundamente radical uma revisão, em grande escala, na maneira como as pes-soas pensam a respeito da própria verdade.

Infelizmente, em vez de reconhecer aquilo que a verdade exige e render-se à necessidade da crença no Deus da verdade, o pensamento ocidental contemporâneo já cogitou maneiras de livrar totalmente a filosofia humana de qualquer noção coerente acerca da verdade. O conceito de verdade está sofrendo ataques pesados na comunidade filosófica, no mundo acadêmico e no âmbito da religião no mundo. O modo como as pessoas pensam a respeito da verdade está sendo totalmente renovado, e o vocabulário do conhecimento humano, completamente redefinido. Evidentemente, o propósito é lançar no esquecimento toda noção de verdade.

Consequentemente, os novos modos de pensar têm sido apelidados, coletivamente, de pós-modernos.

Se você tem prestado atenção ao mundo ao nosso redor, provavelmente já deva ter ouvido muito essa expressão. O termo pós-modernismo tem sido usado cada vez mais, desde os anos 1980, para descrever várias tendências populares na arquitetura, na arte, na literatura, na história, na cultura e na religião. Não é um termo de explicação fácil, porque descreve um modo de pensar que desafia (e até mesmo rejeita) qualquer definição clara.

De modo geral, o pós-modernismo é marcado por uma tendência de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido acerca da verdade. O pós-modernismo sugere que, se a verdade objetiva existe, ela não pode ser conhecida de modo objetivo ou com algum grau de certeza; porque (segundo os pós-modernistas) a subjetividade da mente humana torna impossível o conhecimento da verdade objetiva. Portanto, é inútil pensar na verdade em termos objetivos. A objetividade é uma ilusão. Nada é certo, e a pessoa sensata nunca falará com convicção demasiada a respeito de coisa alguma. Fortes convicções no tocante a qualquer aspecto da verdade são reputadas como supremamente arrogantes e desesperadamente ingênuas. Cada pessoa tem o direito à sua própria verdade.

Por conseguinte, o pós-modernismo não possui uma agenda positiva para declarar que algo é verdadeiro ou bom. Talvez você já tenha notado que somente os crimes mais hediondos ainda são considerados maus. Na realidade, existem muitas pessoas hoje que estão dispostas a debater se algo é "mal"; por essa razão, essa linguagem está desaparecendo rapidamente do discurso público. Isso acontece porque a própria noção do mal não se encaixa no esquema pós-moderno das coisas. Se não pudermos ter nada como certo, como julgaremos que uma coisa é má?

Por essa razão, o único objetivo e atividade singular do pós-modernismo é a desconstrução sistemática de qualquer reivindicação da verdade. As principais ferramentas que têm sido usadas para isso são: o relativismo, o subjetivismo, a negação de todo dogma, a disse cação e o aniquilamento de toda definição clara, o questionamento implacável de todo axioma, a exaltação indevida do mistério e do paradoxo, o exagero deliberado de toda ambigüidade e, acima de tudo, o cultivo da incerteza a respeito de tudo.

Essas opiniões também estão se infiltrando na igreja. Em alguns círculos da igreja visível, hoje, o cinismo é quase considerado como a mais esplêndida de todas a virtudes. Comecei este livro com um excelente exemplo desse cinismo, visto no chamado movimento da Igreja Emergente. Um tom implacável de inquietação pós-modernista a respeito da certeza excessiva permeia todo esse movimento. Não é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforço deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pós-moderna. Os cristãos emergentes estão determinados a adaptar a fé cristã, a estrutura da igreja, a linguagem da fé e até a mensagem do evangelho à retórica e às idéias pós-modernistas.

O pós-modernismo é um tema importante na literatura da Igreja Emergente. Várias vozes da liderança do movimento têm sugerido que o pós-modernismo é algo que a igreja deva abraçar  e adotar. Outros talvez sejam mais hesitantes quanto a endossar completamente o pós-modernismo, mas insistem em que os cristãos devem, pelo menos, começar a falar a linguagem pós-moderna, se quisermos alcançar uma geração pós-moderna. Isso, dizem eles, exigirá uma reorganização da mensagem que apresentamos ao mundo, além de uma remodelagem dos meios que usamos para pregá-la. Algumas pessoas desse movimento têm questionado abertamente se existe mesmo um papel legítimo para a pregação numa cultura pós-moderna. 0 "diálogo" é o método preferido de comunicação. E, de acordo com isso, algumas congregações de estilo emergente acabaram totalmente com os pastores e os substituíram por "narradores". Outras substituíram o sermão por um diálogo livre e aberto, no qual ninguém desempenha um papel de liderança. Por motivos óbvios, dizer com autoridade "assim diz o SENHOR" não é algo bem acolhido nesse ambiente.

A mensagem do evangelho, em todos os fatos que a constituem, é uma proclamação clara, específica, confiante e autorizada de que Jesus é Senhor, e de que Ele dá uma vida eterna e abundante a todos os que crêem. Nós, que conhecemos verdadeiramente a Cristo e recebemos aquela dádiva da vida eterna, também recebemos da parte dEle uma comissão clara e específica para transmitir, com ousadia, a mensagem do evangelho, como seus embaixadores. Se não demonstrarmos igualmente clareza e nitidez em nossa proclamação da mensagem, não seremos bons embaixadores.

Mas não somos meros embaixadores. Somos, ao mesmo tempo, soldados comissionados a guerrear em favor da defesa e disseminação da verdade, em face aos ataques constantes contra ela. Somos embaixadores com uma mensagem de boas-novas para as pessoas que andam em trevas e vivem na região da sombra da morte (Is 9.2). E somos soldados — com ordens para destruir fortalezas ideológicas e derrubar as mentiras e enganos engendrados pelas forças do mal (2 Co 10.3-5; 2 Tm 2.2-4).

Observe atentamente: nossa tarefa como embaixadores é levar as boas-novas às pessoas. Nossa missão como soldados é destruir as idéias falsas. Devemos manter esses objetivos no seu devido lugar; não temos o direito de declarar guerra contra as pessoas, propriamente ditas, nem de entrar em relacionamentos diplomáticos com idéias anti cristãs. Nossa guerra não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12); nosso dever como embaixadores não nos permite transigir com qualquer tipo de filosofia humana, engano religioso ou outro tipo de mentira, nem nos associar com algumas dessas coisas (Cl 2.8).

Se parece difícil manter essas duas tarefas em equilíbrio e na perspectiva adequada, isso acontece porque elas são realmente difíceis.

Judas certamente entendeu isso. O Espírito Santo o inspirou a escrever sua breve epístola às pessoas que estavam lutando com essas mesmas questões. Contudo, ele as exortou a batalharem diligentemente pela fé, contra toda falsidade, ao mesmo tempo em que faziam tudo quanto lhes era possível para livrar as almas da destruição: arrebatando-as "do fogo... detestando até a roupa contaminada pela carne" (Jd 23).
Somos, portanto, embaixadores e soldados; procuramos alcançar os pecadores com a verdade, ao mesmo tempo em que envidamos todos os esforços para destruir as mentiras e outras formas de mal, que os mantêm na escravidão mortífera. Esse é um resumo perfeito do dever de todo cristão na guerra pela verdade.

Martinho Lutero, aquele nobre soldado do evangelho, lançou esse desafio diante de todos os cristãos, de todas as gerações que o sucederam, ao dizer:
Se, com a voz mais elevada e a exposição mais nítida, eu professar toda porção da verdade de Deus, e não professar exatamente aquele pormenor de que o mundo e o Diabo estão nos atacando naquele momento, não estou confessando a Cristo, ainda que esteja professando-0 com ousadia. Ali, onde a batalha é intensa, a lealdade do soldado é provada; e, ficar firme em todos os demais pontos do campo de batalha, será mera fuga e vergonha, se o soldado falhar naquele pormenor.

Sola Scriptura

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Valdemiro Santiago disse o seguinte em um de seus estudos bíblicos: 

“Muita gente pela tradição da religião, não entende a historia de Jesus. Alguns falam de natal, mas ninguém sabe o dia exato em que Jesus Cristo nasceu. Segundo que Jesus já existia muito antes de tudo. Ele é a imagem do Deus invisível, a encarnação do verbo.Mas ele não é sempiterno, é eterno. O pai que é Deus é sempiterno, aquele que antes dele nunca existiu como ele, nem existirá depois dele, sempre existiu e sempre existirá. A primeira obra dele foi Jesus Cristo...” (Citado em seu site no dia 14/02/2012 no link: www.impd.org.br/portal/mensagens_impd.php?id=49)
Você sabe que ensinamento é esse que Valdemiro está transmitindo ao afirmar que Jesus é a primeira criação ou obra de Deus? Sim, é a encanecida heresia do Arianismo. Provavelmente, devido à deficiência teológica desse Apóstolo, ele nem deve saber quem foi Ário, mas o bojo doutrinário da afirmação dele é totalmente contrário aos ensinos da teologia bíblica protestante. 

Mas afinal de contas o que seria o arianismo e por que é tão pernicioso? Tal ensino é uma heresia que foi condenada pela igreja desde os primeiros séculos de fé cristã. O contexto histórico do arianismo gira em torno de um homem chamado Ário. Ele ensinou que Deus Pai era maior do que Cristo, e que Jesus teria sido a primeira criação de Deus. Assim, Jesus não era Deus como o Pai, mas sim a primeira criação de Deus, tal como os anjos – um mero ser criado. Hoje esta cosmovisão teológica é muito bem trabalhada pela seita Jeovista conhecida como Testemunhas de Jeová. 

Para saber mais sobre a problemática de tamanha heresia, o CACP desenvolveu vários artigos mostrando os erros da doutrina ariana.

Por isso que a palavra de Deus nos adverte com muita procedência e de maneira auspiciosa:

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo (1 João 4:1)”.

Tomem cuidado com tais movimentos. Não se impressione pelo fato de em tal lugar haver supostamente muitos milagres, mas observe se a doutrina bíblia está sendo enfatizada com verdade e critério, pois disse Jesus:

Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. (Mt 7.20-24)



Acervo: Fernando Silva
Autor : Prof. João Flávio Martinez
Extraido Site : www.cacp.org.br





Sobre o Véu


Neste comentário, procuramos refutar, algumas falácias concernentes ao uso do véu e o corte de cabelo, no contexto de Corinto.

Paulo enfatiza algumas determinações alusivas ao assunto, como princípios morais e eternos ou como princípios circunstanciais? Teríamos algum respaldo, à luz da Hermenêutica Bíblica, para determinar o uso do véu para os dias atuais? Seria uma falta de decência, das mulheres cristãs a não utilização do véu?

Porque as mulheres judaicas usavam o véu? E as Helênicas não usavam? E porque era proibido as mulheres contemporâneas do Apóstolo Paulo de terem os cabelos rapados?

TRADUÇÃO LITERAL

“Toda mulher orando ou profetizando descoberta com a cabeça desonra a cabeça dela;”

EXEGESE TEOLÓGICA


Neste trecho o vocábulo mais discutido é sobre a questão do uso do véu; o que o apóstolo Paulo quis nos ensinar? Seria este um ensino de valores eternos ou circunstanciais? E qual a utilização do uso do véu hoje?

• Primeiro: À luz do contexto. O escritor fala sobre uma hierarquia na criação I Co 11:3, ordem na criação I Co 11:7-9.

• Segundo: Discorrendo no contexto cultural, observamos que, a cidade de Corinto era estrategicamente estabelecida; foi uma autêntica metrópole, abrigando judeus, gregos e romanos. Portanto, havia uma miscigenação de raças e de culturas.

A cidade fornecia mais divertimento e opções culturais que outros portos menos importantes. Lá ficava o único anfiteatro (uma construção romana) da Grécia com capacidade para mais de 20.000 espectadores. O grande templo de Afrodite, sendo a deusa identificada com a lascívia e com a prostituição cultural, seu templo abrigava mais de 1.000 prostitutas.

A cultura de Corinto não era judaica, mas grega e fortemente influenciada pelos viajantes romanos que lá passavam. Portanto eles se vestiam, comiam e se portavam diferentes dos judeus.

• Terceiro: O uso do véu.

Para os judeus era um costume antigo, que representava a decência das mulheres – Submissão das mulheres.

• Quarto: No caso de Corinto, temos um costume das prostitutas( sacerdotisas do templo de Afrodite ) terem a cabeças rapada, e também as mulheres gregas que não se prostituíam tinham o cabelo comprido, porém não usavam o véu. Então concluímos; numa cultura a não utilização do véu poderia ser motivo para o divórcio, também poderia ser uma forma de lamento, ter a cabeça rapada ou indicar uma mulher culpada de adultério.

• As sacerdotisas do templo de Afrodite raspavam a cabeça e conforme um costume local, elas teriam que se entregar a algum desconhecido sexualmente, uma vez por ano ( havia em Corinto mil prostitutas – sacerdotisas de Afrodite ).

• Quinto: Enfatizamos, que Paulo não ensinava nesta passagem bíblica, princípios morais eternos, e assim circunstanciais, ou seja, cultural. O ensino era que, por uma questão de coerência, aqueles que quisessem manter a tradição do uso do véu hebraico deveriam também preservar o uso dos cabelos compridos presentes na cultura helênica.

Segundo o escritor Ricardo Gondim “Isto porque, da mesma forma que uma mulher sem o véu era considerada prostituta pelos judeus, uma mulher com a cabeça rapada era tida como meretriz pelos gregos”.

A decência nesta questão não seria o comprimento do cabelo, nem tão pouco o uso do véu. E sim a decência com que a mulher se apresentava na igreja e na sociedade.

É possível, encontrar ainda hoje, em pleno século XXI, seguimentos religiosos diversos que respaldando-se na sua cultura,cosmovisão religiosa ou na interpretação de trechos bíblicos sem considerar o seu contexto, criam normas,regulamentos para legitimar nos seus seguidores mecânismos de controle.Doravante,é preciso pois,respeitar os costumes de cada seguimento religioso,ou seja, aqueles que proibem por exemplo: o corte de cabelo para as mulheres, ou o uso de calças compridas, sem contudo condicionar ou até mesmo atrelar a salvação de uma alma a observância irrestrita aos mesmos. Pois, conforme o conceito paulino “não vem das obras para que ninguém se glorie”.

Segundo a Hermenêutica Bíblica, devemos interpretar o texto dentro dos contextos: Histórico, geográfico, sintático, gramátical, lexicológico, teológico e doutrinal. Portanto,a lei geral diz: “Que um texto fora do seu contexto, servi de pretexto”.

Não há qualquer restrição bíblica, hoje quanto ao corte de cabelo ou a proibição do uso de calças comprindas para mulheres. Deve-se respeitar o contexto religioso e cultural que o seguidor(a) estão inseridos. Entretando, salientando sobretudo que, nenhuma tradição, norma cultural está acima das Escrituras sagradas.


ACERVO: FERNANDO SILVA
EXTRAIDO CACP - SITE : WWW.CACP.OG.BR


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Teologia Reformada - Defesa do Evangelho: Teologia Relacional ou do Processo -

Teologia Reformada - Defesa do Evangelho: Teologia Relacional ou do Processo -: Quando Paulo Romeiro escreveu Evangélicos em Crise em meados da década de 90, ele apenas tocou em uma das muitas áreas em que o evangelical...

Teologia Relacional ou do Processo -

Quando Paulo Romeiro escreveu Evangélicos em Crise em meados da década de 90, ele apenas tocou em uma das muitas áreas em que o evangelicalismo havia entrado em colapso no Brasil: a sua incapacidade de deter a proliferação de teologias oriundas de uma visão pragmática e mercantilista de igreja, no caso, a teologia da prosperidade. 

Fica cada vez mais claro que os evangélicos estão atualmente numa crise muito maior, a começar pela dificuldade – para não falar da impossibilidade – de ao menos se definir hoje o que é ser evangélico. 

Até pouco tempo, “evangélico” indicava vagamente aqueles protestantes de entre todas as denominações – presbiterianos, batistas, metodistas, anglicanos, luteranos e pentecostais, entre outros, que consideravam a Bíblia como Palavra de Deus, autoritativa e infalível, que eram conservadores no culto e nos padrões morais, e que tinham visão missionária. 

Hoje, no Brasil, o termo não tem mais essa conotação. Ele tem sido usado para se referir a todos os que estão dentro do cristianismo em geral e que não são católicos romanos: protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais, igrejas emergentes, comunidades dos mais variados tipos, etc. 

É evidente a crise gigantesca em que os evangélicos se encontram: a falta de rumos teológicos definidos, a multiplicidade de teologias divergentes, a falta de uma liderança com autoridade moral e espiritual, a derrocada doutrinária e moral de líderes que um dia foram reconhecidos como referência, o surgimentos de líderes totalitários que se auto-denominam pastores, bispos e apóstolos. 

A conquista gradual das escolas de teologia pelo liberalismo teológico, a falta de padrões morais pelos quais ao menos exercer a disciplina eclesiástica, a depreciação da doutrina, a mercantilização de várias editoras evangélicas que passaram a publicar livros de linha não evangélica, e o surgimento das chamadas igrejas emergentes. A lista é muito maior e falta espaço nesse post. 

Recentemente um amigo meu, respeitado professor de teologia, me disse que o evangelicalismo brasileiro está na UTI. Concordo com ele. A crise, contudo, tem suas raízes na própria natureza do evangelicalismo, desde o seu nascedouro. 

Há opiniões divergentes sobre quando o moderno evangelicalismo nasceu. Aqui, adoto a opinião de que ele nasceu, como movimento, nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos. Era uma ala dentro do movimento fundamentalista que desejava preservar os pontos básicos da fé (veja meu post sobre Fundamentalismo), mas que não compartilhava do espírito separatista e exclusivista da primeira geração de fundamentalistas. 

A princípio chamado de “neo-fundamentalismo”, o evangelicalismo entendia que deveria procurar uma interação maior com questões sociais e, acima de tudo, obter respeitabilidade acadêmica mediante o diálogo com a ciência e com outras linhas dentro da cristandade, sem abrir mão dos “fundamentos”. 

Eles queriam se livrar da pecha de intransigentes, fechados, bitolados e obscurantistas, ao mesmo tempo em que mantinham doutrinas como a inerrância das Escrituras, a crença em milagres, a morte vicária de Cristo, sua divindade e sua ressurreição de entre os mortos. Eram, por assim dizer, fundamentalistas esclarecidos, que queriam ser reconhecidos academicamente, acima de tudo. 

O que aconteceu para o evangelicalismo chegasse ao ponto crítico em que se encontra hoje? Tenho algumas idéias que coloco em seguida. 

1. O diálogo com católicos, liberais, pentecostais e outras linhas sem que os pressupostos doutrinários tivessem sido traçados com clareza. Acredito que podemos dialogar e aprender com quem não é reformado. Contudo, o diálogo deve ser buscado dentro de pressupostos claros e com fronteiras claras. Hoje, os evangélicos têm dificuldades em delinear as fronteiras do verdadeiro cristianismo e de manter as portas fechadas para heresias. 

2. A adoção do não-exclusivismo como princípio. Ao fazer isso, os evangélicos começaram a abrir a porta para a pluralidade doutrinária, a multiplicidade de eclesiologias e o relativismo moral, sem que tivessem qualquer instrumento poderoso o suficiente para ao menos identificar o que estivesse em desacordo com os pontos cruciais. 

3. O abandono gradual da aderência a esses pontos cruciais com o objetivo de alargar a base de comunhão com outras linhas dentro da cristandade. Com a redução cada vez maior do que era básico, ficou cada vez mais ampla a definição de evangélico, a ponto de perder em grande parte seu significado original. 

4. O abandono da confessionalidade, dos grandes credos e confissões do passado, que moldaram a fé histórica da Igreja com sua interpretação das Escrituras. Não basta dizer que a Bíblia não tem erros. Arminianos, pelagianos, socinianos, unitários, eteroteólogos, neopentecostais – todos afirmarão isso. 

O problema está na interpretação que fazem dessa Bíblia inerrante. Ao jogar fora séculos de tradição interpretativa e teológica, os evangélicos ficaram vulneráveis a toda nova interpretação, como a teologia relacional, a teologia da prosperidade, a nova perspectiva sobre Paulo, etc. 

5. A mudança de uma orientação teológica mais agostiniana e reformada para uma orientação mais arminiana. Isso possibilitou a entrada no meio evangélico de teologias como a teologia relacional, que é filhote do arminianismo. Permitiu também a invasão da espiritualidade mística centrada na experiência, fruto do reavivalismo pelagiano de Charles Finney. (Nota do CACP*: Aqui o autor critica a exacerbação do arminianismo... entendemos que tanto o radicalismo arminiano como o calvinista é contraproducente)

Essa mudança também trouxe a depreciação da doutrina em favor do pragmatismo, e também o antropocentrismo no culto, na igreja e na missão, tudo isso produto da visão arminiana da centralidade do homem. 

Mas talvez o pior de tudo foi a perda da cosmovisão reformada, que serviria de base para uma visão abrangente da cultura, ciência e sociedade, a partir da soberania de Deus sobre todas as áreas da vida. Sem isso, o evangelicalismo mais e mais tem se inclinado a ações isoladas e fragmentadas na área social e política, às vezes sem conexão com a visão cristã de mundo. 

6. Por fim, a busca de respeitabilidade acadêmica, não somente da parte dos demais cristãos, mas especialmente da parte da academia secular. Essa busca, que por vezes tem esquecido que o opróbrio da cruz é mais aceitável diante de Deus do que o louvor humano, acabou fazendo com que o evangelicalismo, em muitos lugares, submetesse suas instituições teológicas aos padrões educacionais do Estado e das universidades. 

Padrões esses comprometidos metodológica, filosófica e pedagogicamente com a visão humanística e secularizada do mundo, em que as Escrituras e o cristianismo são estudados de uma perspectiva não cristã. Abriu-se a porta para o velho liberalismo. 

Não há saída fácil para essa crise. Contudo, vejo a fé reformada como uma alternativa possível e viável para a igreja evangélica brasileira, desde que se mantenha fiel às grandes doutrinas da graça e aos lemas da Reforma, e que faça certo aquilo que os evangélicos não foram capazes de fazer: 

(1) dialogar e interagir com a diversidade delineando com clareza as fronteiras do cristianismo; 

(2) abandonar o inclusivismo generalizado e adotar um exclusivismo inteligente e sensível; 

(3) voltar a valorizar a doutrina, especialmente os pontos fundamentais da fé cristã expressos nos credos e confissões, que moldaram os inícios do movimento evangélico.

Talvez assim possamos delinear com mais clareza os contornos da face evangélica em nosso país. 

Fernando Silva - Acervo : Extraido site: www.cacp.org.br
Augustus Nicodemus Lopes é pastor presbiteriano. Bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul) e doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). É chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Teologia Reformada - Defesa do Evangelho: Reforma Protestante

Teologia Reformada - Defesa do Evangelho: Reforma Protestante: Pergunta: "O que é Teologia Reformada?" Resposta: De uma forma geral, Teologia Reformada inclui qualquer sistema de crença que traça suas r...

Reforma Protestante

Pergunta: "O que é Teologia Reformada?"

Resposta: 
De uma forma geral, Teologia Reformada inclui qualquer sistema de crença que traça suas raízes à Reforma Protestante do século 16. Claro que os Reformadores basearam sua doutrina nas Escrituras, como indicado no credo de “sola scriptura”, então teologia Reformada não é um “novo” sistema de crença mas um que procura dar continuação à doutrina apostólica.

Geralmente, teologia Reformada defende a autoridade das Escrituras, a soberania de Deus, salvação pela graça através de Cristo e a necessidade de evangelismo. Às vezes é chamada de Teologia do Pacto por causa da ênfase dada à aliança que Deus fez com Adão e a nova aliança que veio através de Jesus Cristo (Lucas 22:20). 

Autoridade das Escrituras. Teologia Reformada ensina que a Bíblia é a inspirada e confiável Palavra de Deus, suficiente para todos os assuntos de fé e prática.

Soberania de Deus. Teologia Reformada ensina que Deus reina com controle absoluto sobre toda a criação. Ele predeterminou todos os eventos e, portanto, nunca se frustra com as circunstâncias. Isso não limita a vontade da criatura, nem faz de Deus o autor do pecado.

Salvação pela graça. Teologia reformada ensina que Deus em Sua graça e misericórdia escolheu redimir um povo para Si mesmo, livrando-os do pecado e morte. A doutrina de salvação reformada é também conhecida como os cinco pontos do Calvinisno (ou pelo acróstico TULIP, referente às iniciais dos pontos em inglês):

T- Depravação Total do Homem (Total depravity).O homem é completamente fraco em seu estado de pecado, está sob a ira de Deus e de forma alguma pode agradar a Deus. Depravidade total também significa que o homem não vai naturalmente procurar conhecer a Deus, até que Deus graciosamente o encoraje a assim agir. (Gênesis 6:5; Jeremias 17:9; Romanos 3:10-18).

U – Eleição incondicional (Unconditional election). Deus, da eternidade passada, escolheu salvar uma grande multidão de pecadores, a qual nenhum homem pode numerar (Romanos 8:29-30; 9:11; Efésios 1:4-6:11-12).

L- Expiação limitada (Limited Atonement). Também chamada de “redenção particular”. Cristo tomou sobre Si o julgamento do pecado dos eleitos e, portanto, pagou por suas vidas com a Sua morte. Em outras palavras, Ele não só tornou salvação “possível”, Ele na verdade a obteve por aqueles que Ele tinha escolhido (Mateus 1:21; João 10:11; 17:9; Atos 20:28; Romanos 8:32; Efésios 5:25).

I - Graça irresistível (Irresistible Grace). Em seu estado depois da Queda ao pecado, o homem resiste ao amor de Deus, mas a graça de Deus trabalhando em seu coração faz com que tal homem deseje o que ele tinha previamente resistido. Quer dizer, a graça de Deus não vai falhar em realizar o seu trabalho de salvação na vida dos eleitos (João 6:37,44; 10:16).

P – Perseverança dos santos (Perseverance of the saints). Deus protege Seus santos de se desviar totalmente; por isso salvação é eterna (João 10:27-29; Romanos 8:29-30; Efésios 1:3-14).

A necessidade de evangelismo. Teologia reformada ensina que Cristãos estão nesse mundo para fazer a diferença, espiritualmente através de evangelismo e socialmente através de uma vida santa e de humanitarismo.

Outras características da teologia Reformada geralmente incluem a observância de dois sacramentos (batismo e comunhão), uma opinião de que certos dons espirituais cessaram (esses dons não foram mais passados à igreja), e uma opinião não dispensacionalista das Escrituras. As igrejas reformadas dão grande valor ao ensino de João Calvino, John Knox, Ulrico Zuínglio e Martinho Lutero. A Confissão de Fé de Westminster incorpora a teologia da tradição Reformada. Igrejas modernas na tradição reformada incluem a Prebisteriana, Congregacionalista e algumas Batistas.



ACERVO : FERNANDO SILVA