EM BUSCA DA VERDADE
ACERVO : FERNANDO SILVA
EXTRAIDO DA OBRA DE : JOHN MACARTHUR ""Em Busca da Verdade""
A idéia de que a mensagem cristã deve ser mantida adaptável e ambígua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura e amam o espírito desta época, e não podem suportar que a verdade bíblica autoritária seja aplicada com precisão, como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamentos ímpios. E o veneno dessa perspectiva vem sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica.
Mas isso não é cristianismo autêntico. Não saber o que se crê (principalmente numa questão tão essencial ao cristianismo como o evangelho) é, por definição, um tipo de incredulidade. Recusar reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus um tipo específico de incredulidade obstinada e perniciosa. Defende ambiguidade, exaltar a incerteza ou, de qualquer forma,obscurecer verdade é um modo pecaminoso de nutrir a incredulidade.
Todo cristão verdadeiro deve conhecer e amar a verdade. As Escrituras afirmam que uma característica dos "que perecem" aqueles que estão condenados à perdição por causa de sua incredulidade) é que não acolhem "o amor da verdade para serem salvos" (2 Ts 2.10). A conclusão óbvia desse texto é que o amor genuíno pela verdade está embutido na fé salvífica. Esse amor à verdade é, portanto, uma das qualidades distintivas de todo crente verdadeiro. Nas palavras de Jesus, eles conheceram a verdade, e a verdade os libertou (Jo 8.32). Numa época em que a própria idéia de verdade está sendo desprezada e atacada, até na própria igreja, onde as pessoas deveriam tratar a verdade com a máxima reverência, o sábio conselho de Salomão nunca foi tão oportuno: "Compra a verdade e não a vendas" (Pv 23.23).
A História está repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em gerações anteriores, o fato de alguém dar a vida por aquilo em que cria era considerado um ato heróico. Isso já não é mais assim.
Parte desse problema deve-se ao fato dos terroristas e homens-bomba suicidas terem tomado posse da idéia de "martírio" e a distorcido. Eles se chamam de "mártires," mas são assassinos suicidas, que matam as pessoas porque elas não crêem. Sua agressão violenta é, na realidade, o oposto do martírio; e as ideologias implacáveis que os impulsionam são a antítese da verdade. Nada há de heróico no que fazem, nem há qualquer nobreza naquilo que defendem. Contudo, eles são símbolos relevantes de uma tendência profundamente perturbadora que contamina a geração atual, em todo o mundo. Hoje em dia, parece que não faltam pessoas dispostas a matar em prol de uma mentira. No entanto, poucas pessoas parecem estar dispostas a falar em prol da verdade - e muito menos a morrerem por ela.
Considere os testemunhos dos mártires cristãos no decurso da História. Eles eram valentes defensores da verdade. Não eram terroristas, nem violentos, é lógico. Mas "lutavam" pela verdade; proclamando-a em meio à oposição ferrenha; vivendo de um modo que testemunhava o poder e a graça da verdade; recusando-se a renunciá-la ou abandoná-la, não importando as ameaças que fossem feitas contra eles.
Esse padrão começa na primeira geração da história da igreja, com os próprios apóstolos. Todos eles, com a possível exceção de João, morreram como mártires. O próprio João pagou caro por manter-se firme na verdade, pois foi torturado e exilado por causa de sua fé. A verdade era algo que eles amavam, em favor do que lutavam e pelo que, finalmente, morreram. E passaram esse mesmo legado à geração posterior.
Inácio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros da verdade cristã na antigüidade. Ambos eram amigos pessoais e discípulos do apóstolo João; portanto, viveram e ministraram quando o cris-tianismo ainda era muito recente.
A História registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inácio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrifício público aos ídolos, como prova de sua lealdade à Roma. Inácio poderia ter poupado sua própria vida ao ceder diante daquela pressão. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressão, contanto que Inácio não negasse a Cristo em seu coração. Mas, para Inácio, a verdade era mais importante do que sua própria vida. Recusou-se a sacrificar aos ídolos, e Trajano ordenou que ele fosse lançado às feras, no estádio, para a diversão das multidões pagas.
A História registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inácio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrifício público aos ídolos, como prova de sua lealdade à Roma. Inácio poderia ter poupado sua própria vida ao ceder diante daquela pressão. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressão, contanto que Inácio não negasse a Cristo em seu coração. Mas, para Inácio, a verdade era mais importante do que sua própria vida. Recusou-se a sacrificar aos ídolos, e Trajano ordenou que ele fosse lançado às feras, no estádio, para a diversão das multidões pagas.
Policarpo, amigo de Inácio, procurado pelas autoridades (por-que também era conhecido como líder entre os cristãos), entregou-se de espontânea vontade, sabendo muito bem que isso lhe custaria a vida. Levado a um estádio, diante de um público sedento de sangue.
Hoje, boa parte da igreja visível parece imaginar que os cristãos devem estar numa diversão e não numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrinária é algo bem distante do pensamento da maioria dos frequentadores e líderes da igreja. Os cristãos contemporâneos estão determinados a fazer com que o mundo goste deles - e, é claro, nesse processo, querem também se divertir o quanto puderem. Vivem tão obcecados em fazer com que a igreja pareça "legal" para os incrédulos, que não se incomodam com o fato da doutrina dos outros ser sadia ou não.
Num ambiente como esse, a simples idéia de identificar o ensino de alguém como falso é uma sugestão desagradável e perigosamente anticultural; assim, o que se dirá do fato de "contender sinceramente" pela fé? Os cristãos "compraram" a noção de que quase nada é tão desagradável aos olhos do mundo quanto o fato de alguém demonstrar uma preocupação sincera em relação ao perigo da heresia. Afinal de contas, o mundo não quer realmente levar a verdade espiritual a sério; sendo assim, as pessoas não podem ima-ginar por que alguém faria isso.
No entanto, nos dias de hoje, a maioria das pessoas alega crer no Deus da Bíblia, mas, apesar disso, afirmam que estão incertos acerca do que venha a ser a verdade. Uma apatia sufocante a respeito do conceito de verdade domina boa parte da sociedade contemporânea incluindo um segmento cada vez maior do movimento evangélico.
Certos evangélicos "vanguardistas" agem, às vezes, como se o falecimento da certeza fosse um novo desenvolvimento intelectual sensacional, em vez de o perceberem como ele realmente é: um eco da velha incredulidade. Trata-se da descrença disfarçada com uma capa de religiosidade, buscando legitimidade, como se fosse meramente um tipo mais humilde de fé. Mas isso não é fé de modo algum. Na realidade, a recusa contemporânea em considerar qualquer verdade como certa e segura é o pior tipo de infidelidade. O dever da igreja sempre tem sido o de confrontar semelhante ceticismo e refutá-lo mediante a proclamação clara da verdade, que Deus revelou em sua Palavra. Ele nos deu uma mensagem clara, com o propósito de confrontarmos a incredulidade do mundo. Fomos chamados, ordenados e comissionados a fazer isso (1 Co 1.17-31). A fidelidade a Cristo o exige. A honra de Deus assim o requer. Não podemos ficar sentados, sem fazer nada, enquanto atitudes mundanas, revisionistas e céticas a respeito da verdade se infiltram na igreja. Não devemos aceitar tal confusão em nome do amor, do coleguismo ou da união. Precisamos nos manter firmes e lutar pela verdade — estar dispostos a morrer por ela — como os cristãos fiéis sempre têm feito.
Toda tentativa de definir a verdade em termos não bíblicos tem falhado. Isso acontece porque Deus é a origem de tudo o que existe (Rm 11.36). Somente Ele define e delimita aquilo que é verdadeiro.
Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reveladas na natureza são de sua autoria (Si 19.1-6); e algumas dessas verdades são a auto-revelação do próprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciência para percebermos a verdade e entendermos o certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coração (Rm 2.14-15). E, acima de tudo, deu-nos a verdade perfeita e infalível das Escrituras (SI 19.7-11), a qual é uma revelação suficiente para tudo o que diz respeito à vida e à piedade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor.
Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporação da própria verdade, como o clímax da revelação divina (Hb 1.1-3). E a principal razão para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, começa com a verdade concernente a Deus: quem Ele é; o que a sua mente sabe; o que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda noção de sua inexistência é, pela própria definição, inverdade. É precisamente isso que a Bíblia ensina: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1; 53.1).
Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reveladas na natureza são de sua autoria (Si 19.1-6); e algumas dessas verdades são a auto-revelação do próprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciência para percebermos a verdade e entendermos o certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coração (Rm 2.14-15). E, acima de tudo, deu-nos a verdade perfeita e infalível das Escrituras (SI 19.7-11), a qual é uma revelação suficiente para tudo o que diz respeito à vida e à piedade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor.
Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporação da própria verdade, como o clímax da revelação divina (Hb 1.1-3). E a principal razão para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, começa com a verdade concernente a Deus: quem Ele é; o que a sua mente sabe; o que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda noção de sua inexistência é, pela própria definição, inverdade. É precisamente isso que a Bíblia ensina: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1; 53.1).
As ramificações de toda a verdade que começa em Deus são profundas. Voltando a uma consideração anterior: essa é a razão por que, uma vez que alguém negue a Deus, a coerência obriga-o, enfim, a negar toda a verdade. Negar a existência de Deus remove, num só instante, toda justificativa para qualquer tipo de conhecimento. Conforme dizem as Escrituras: "O temor do SENHOR é o princípio do saber" (Pv 1.7).
claro que a existência da verdade absoluta e seu relacionamento inseparável com a pessoa de Deus constituem o princípio mais essencial de todo o cristianismo verdadeiramente bíblico. Falo com franqueza; se você é uma pessoa que questiona se a verdade é realmente importante, peço-lhe que não chame o seu sistema de crenças de cristianismo", porque ele não o é.
O fato de que os crentes de nossa geração precisem ser lem-brados dessas coisas é estarrecedor.
COMO A VERDADE ESTÁ SENDO ATACADA NA IGREJA HOJE?
A clareza e a suficiência das Escrituras, o estado de perdição da humanidade não redimida e a justiça de Deus em condenar os pecadores são convicções antigas em todas as principais tradições do cristianismo histórico.
Acontece, também, que estamos vivendo numa geração em que supostos cristãos não sentem o menor interesse por esse conflito e contenda. Multidões de cristãos subnutridos nas Escrituras e na doutrina chegaram a pensar que a controvérsia é algo que sempre deva ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse é o exemplo que muitos pastores fracos têm lhes dado.
Na igreja, nunca devemos apreciar ou nos envolver em controvérsia e conflito, sem motivos suficientes. Mas, em cada geração, a batalha pela verdade tem sido inevitável, porque os inimigos da verdade são implacáveis. A verdade está sempre sob ataque. E, na realidade, é um pecado não lutar quando verdades vitais estão sendo atacadas.
Isso é uma realidade, mesmo quando, às vezes, a luta resulta em conflito dentro da comunidade visível dos cristãos professos. De fato, sempre que os inimigos da verdade evangélica conseguem se infiltrar na igreja, os crentes fiéis são obrigados a batalhar contra eles. Essa é, certamente, a situação hoje, assim como tem sido desde os tempos apostólicos.
Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.
Segue-se, aqui, uma definição singela, extraída daquilo que a Bíblia ensina: a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a vontade, o caráter, a glória e o ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto-expressão de Deus. Esse é o significado bíblico de verdade; é a definição que emprego em todas as partes deste livro. Posto que a definição da verdade flui de Deus, a verdade é teológica.
Á verdade é também onlológíca - um modo requintado de expressar que a verdade é a maneira como as coisas realmente são.
A realidade é o que é porque Deus declarou que ela deveria ser assim e a fez dessa forma. Por isso, Deus é o autor, a fonte, o determinador, o governador, o árbitro, o padrão máximo e o derradeiro juiz de toda a verdade. O Antigo Testamento refere-se ao Todo-Poderoso como o "Deus da verdade" (Dt 32.4; SI 31.5; Is 65.16). Quando Jesus disse a respeito de Si mesmo: "Eu sou... a verdade" (Jo 14.6, ênfase acrescentada), Ele estava fazendo uma declaração profunda a respeito de sua própria divindade. Também deixou claro que toda verdade, em última análise, deve ser definida em termos de Deus e de sua glória eterna. Afinal de contas, Jesus é "o resplendor da glória [de Deus] e a expressão exata do seu Ser" (Hb 1.3). Ele é a verdade encarnada a expressão perfeita de Deus e, portanto, a corporificação absoluta de tudo o que é a verdade.
Jesus também disse que a Palavra escrita de Deus é a verdade. Ela não somente contém pepitas da verdade; ela é a verdade pura, imutável e inviolável que (segundo Jesus) "não pode falhar" (Jo 10.35). Jesus, orando ao seu Pai celestial, em favor dos seus discípulos, disse: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17). Além disso, a Palavra de Deus é a verdade eterna, "a qual vive e é permanente" (1 Pe 1.23).
É lógico que não pode existir qualquer discordância ou diferença de opinião entre a Palavra escrita de Deus (as Escrituras) e a Palavra encarnada de Deus (Jesus). Em primeiro lugar, a verdade, por sua própria natureza, não pode contradizer a si mesma. Em segundo lugar, as Escrituras são chamadas de "palavra de Cristo" (Cl 3.16). E a mensagem dEle, a auto-expressão dEle. Em outras palavras, a verdade de Cristo e a verdade da Bíblia são do mesmíssimo caráter. Estão em perfeito acordo, em todos os aspectos. Ambas são igualmente verdadeiras. Deus se revelou à humanidade por meio das Escrituras e por meio do seu Filho. Ambos expressam com perfeição aquilo que a verdade é.
Uma conclusão óbvia daquilo que estou dizendo é que, à parte de Deus, a verdade não significa coisa alguma. A verdade não pode ser explicada, reconhecida, entendida ou definida sem que Deus seja a sua fonte. Visto que somente Ele é eterno e auto-existente, e somente Ele é o Criador de todas as coisas, Ele é a fonte de toda a verdade.
Se você refletir sobre esse assunto com uma dose mínima de sobriedade, logo perceberá que até as distinções morais mais fundamentais — o bem e o mal, o certo e o errado, a beleza e a feiúra, a honra e a desonra — não têm qualquer possibilidade de possuir sentido verdadeiro ou permanente à parte de Deus. A razão disso é que a verdade e o conhecimento, por si mesmos, simplesmente não possuem uma relevância coerente à parte de uma origem fixa, ou seja, Deus. Como poderiam ser relevantes? Deus é, em Si mesmo, a própria definição da verdade. Qualquer reivindicação de uma verdade à parte de Deus é absurda.
A GRANDE "MUDANÇA DE PARADIGMA"
Em tempos recentes, muitos intelectuais incrédulos têm reconhecido que a corrente está quebrada e resolveram que o culpado disso é o fato de que qualquer busca pela verdade é absurda. Com efeito, já abandonaram essa busca como se fosse algo totalmente fútil. Portanto, o mundo das idéias humanas está atualmente num estado grave de fluxo. Em quase todos os níveis da sociedade, estamos testemunhando uma mudança de paradigmas profundamente radical uma revisão, em grande escala, na maneira como as pes-soas pensam a respeito da própria verdade.
Infelizmente, em vez de reconhecer aquilo que a verdade exige e render-se à necessidade da crença no Deus da verdade, o pensamento ocidental contemporâneo já cogitou maneiras de livrar totalmente a filosofia humana de qualquer noção coerente acerca da verdade. O conceito de verdade está sofrendo ataques pesados na comunidade filosófica, no mundo acadêmico e no âmbito da religião no mundo. O modo como as pessoas pensam a respeito da verdade está sendo totalmente renovado, e o vocabulário do conhecimento humano, completamente redefinido. Evidentemente, o propósito é lançar no esquecimento toda noção de verdade.
Consequentemente, os novos modos de pensar têm sido apelidados, coletivamente, de pós-modernos.
Se você tem prestado atenção ao mundo ao nosso redor, provavelmente já deva ter ouvido muito essa expressão. O termo pós-modernismo tem sido usado cada vez mais, desde os anos 1980, para descrever várias tendências populares na arquitetura, na arte, na literatura, na história, na cultura e na religião. Não é um termo de explicação fácil, porque descreve um modo de pensar que desafia (e até mesmo rejeita) qualquer definição clara.
De modo geral, o pós-modernismo é marcado por uma tendência de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido acerca da verdade. O pós-modernismo sugere que, se a verdade objetiva existe, ela não pode ser conhecida de modo objetivo ou com algum grau de certeza; porque (segundo os pós-modernistas) a subjetividade da mente humana torna impossível o conhecimento da verdade objetiva. Portanto, é inútil pensar na verdade em termos objetivos. A objetividade é uma ilusão. Nada é certo, e a pessoa sensata nunca falará com convicção demasiada a respeito de coisa alguma. Fortes convicções no tocante a qualquer aspecto da verdade são reputadas como supremamente arrogantes e desesperadamente ingênuas. Cada pessoa tem o direito à sua própria verdade.
Por conseguinte, o pós-modernismo não possui uma agenda positiva para declarar que algo é verdadeiro ou bom. Talvez você já tenha notado que somente os crimes mais hediondos ainda são considerados maus. Na realidade, existem muitas pessoas hoje que estão dispostas a debater se algo é "mal"; por essa razão, essa linguagem está desaparecendo rapidamente do discurso público. Isso acontece porque a própria noção do mal não se encaixa no esquema pós-moderno das coisas. Se não pudermos ter nada como certo, como julgaremos que uma coisa é má?
Por essa razão, o único objetivo e atividade singular do pós-modernismo é a desconstrução sistemática de qualquer reivindicação da verdade. As principais ferramentas que têm sido usadas para isso são: o relativismo, o subjetivismo, a negação de todo dogma, a disse cação e o aniquilamento de toda definição clara, o questionamento implacável de todo axioma, a exaltação indevida do mistério e do paradoxo, o exagero deliberado de toda ambigüidade e, acima de tudo, o cultivo da incerteza a respeito de tudo.
Essas opiniões também estão se infiltrando na igreja. Em alguns círculos da igreja visível, hoje, o cinismo é quase considerado como a mais esplêndida de todas a virtudes. Comecei este livro com um excelente exemplo desse cinismo, visto no chamado movimento da Igreja Emergente. Um tom implacável de inquietação pós-modernista a respeito da certeza excessiva permeia todo esse movimento. Não é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforço deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pós-moderna. Os cristãos emergentes estão determinados a adaptar a fé cristã, a estrutura da igreja, a linguagem da fé e até a mensagem do evangelho à retórica e às idéias pós-modernistas.
O pós-modernismo é um tema importante na literatura da Igreja Emergente. Várias vozes da liderança do movimento têm sugerido que o pós-modernismo é algo que a igreja deva abraçar e adotar. Outros talvez sejam mais hesitantes quanto a endossar completamente o pós-modernismo, mas insistem em que os cristãos devem, pelo menos, começar a falar a linguagem pós-moderna, se quisermos alcançar uma geração pós-moderna. Isso, dizem eles, exigirá uma reorganização da mensagem que apresentamos ao mundo, além de uma remodelagem dos meios que usamos para pregá-la. Algumas pessoas desse movimento têm questionado abertamente se existe mesmo um papel legítimo para a pregação numa cultura pós-moderna. 0 "diálogo" é o método preferido de comunicação. E, de acordo com isso, algumas congregações de estilo emergente acabaram totalmente com os pastores e os substituíram por "narradores". Outras substituíram o sermão por um diálogo livre e aberto, no qual ninguém desempenha um papel de liderança. Por motivos óbvios, dizer com autoridade "assim diz o SENHOR" não é algo bem acolhido nesse ambiente.
A mensagem do evangelho, em todos os fatos que a constituem, é uma proclamação clara, específica, confiante e autorizada de que Jesus é Senhor, e de que Ele dá uma vida eterna e abundante a todos os que crêem. Nós, que conhecemos verdadeiramente a Cristo e recebemos aquela dádiva da vida eterna, também recebemos da parte dEle uma comissão clara e específica para transmitir, com ousadia, a mensagem do evangelho, como seus embaixadores. Se não demonstrarmos igualmente clareza e nitidez em nossa proclamação da mensagem, não seremos bons embaixadores.
Mas não somos meros embaixadores. Somos, ao mesmo tempo, soldados comissionados a guerrear em favor da defesa e disseminação da verdade, em face aos ataques constantes contra ela. Somos embaixadores com uma mensagem de boas-novas para as pessoas que andam em trevas e vivem na região da sombra da morte (Is 9.2). E somos soldados — com ordens para destruir fortalezas ideológicas e derrubar as mentiras e enganos engendrados pelas forças do mal (2 Co 10.3-5; 2 Tm 2.2-4).
Observe atentamente: nossa tarefa como embaixadores é levar as boas-novas às pessoas. Nossa missão como soldados é destruir as idéias falsas. Devemos manter esses objetivos no seu devido lugar; não temos o direito de declarar guerra contra as pessoas, propriamente ditas, nem de entrar em relacionamentos diplomáticos com idéias anti cristãs. Nossa guerra não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12); nosso dever como embaixadores não nos permite transigir com qualquer tipo de filosofia humana, engano religioso ou outro tipo de mentira, nem nos associar com algumas dessas coisas (Cl 2.8).
Se parece difícil manter essas duas tarefas em equilíbrio e na perspectiva adequada, isso acontece porque elas são realmente difíceis.
Judas certamente entendeu isso. O Espírito Santo o inspirou a escrever sua breve epístola às pessoas que estavam lutando com essas mesmas questões. Contudo, ele as exortou a batalharem diligentemente pela fé, contra toda falsidade, ao mesmo tempo em que faziam tudo quanto lhes era possível para livrar as almas da destruição: arrebatando-as "do fogo... detestando até a roupa contaminada pela carne" (Jd 23).
Somos, portanto, embaixadores e soldados; procuramos alcançar os pecadores com a verdade, ao mesmo tempo em que envidamos todos os esforços para destruir as mentiras e outras formas de mal, que os mantêm na escravidão mortífera. Esse é um resumo perfeito do dever de todo cristão na guerra pela verdade.
Martinho Lutero, aquele nobre soldado do evangelho, lançou esse desafio diante de todos os cristãos, de todas as gerações que o sucederam, ao dizer:
Se, com a voz mais elevada e a exposição mais nítida, eu professar toda porção da verdade de Deus, e não professar exatamente aquele pormenor de que o mundo e o Diabo estão nos atacando naquele momento, não estou confessando a Cristo, ainda que esteja professando-0 com ousadia. Ali, onde a batalha é intensa, a lealdade do soldado é provada; e, ficar firme em todos os demais pontos do campo de batalha, será mera fuga e vergonha, se o soldado falhar naquele pormenor.
Sola Scriptura