quinta-feira, 10 de abril de 2014

A Nociva Semente do Evangelho da Prosperidade

Miguel Núñez 31 de Março de 2014 - Práticas da Igreja
Por que o evangelho da prosperidade prosperou? Qualquer um envolvido no ministério hoje está ciente do quão difundido é esse novo ensino. Ele alcançou quase todas as nações. Eu fiquei surpreso ao encontrá-lo até mesmo em Cuba, em uma de minhas muitas viagens para a ilha caribenha.
Por que essa heresia? E por que agora?
Seria fácil dizer que a propagação do evangelho da prosperidade é simplesmente o resultado de uma falta de conhecimento bíblico, e certamente ninguém pode negar isso. O movimento interpreta erroneamente a Escritura, seletivamente se utiliza de textos bíblicos negligenciando outros, perdendo a visão balanceada do completo conselho de Deus sobre a saúde e a riqueza. Em uma era em que muitos mestres da Palavra não estão pregando expositivamente, todo tipo de heresia tende a surgir.
Mas duas perguntas permanecem: por que essa heresia? E por que agora? Eu sugeriria que há profundas raízes malignas nos corações das pessoas e fortes ideias seculares no coração da nossa sociedade — e até mesmo na igreja — que servem como fertilizantes para essa semente nociva.
1. Do meu jeito!
Primeiro, criaturas caídas desejam ser independentes de Deus. Se você pensar bem, a mensagem da antiga serpente era uma versão do evangelho da prosperidade. O que Satanás poderia oferecer a um casal que havia recebido o planeta inteiro para usar e dominar? Nada! Bom, nada material. Mas o mais astuto dos animais da terra ainda tinha uma carta na manga... prosperidade espiritual: “Sereis como Deus” (Gn 3.5). Satanás ofereceu uma maneira de eles aprimorarem sua já abençoada condição, algo conquistável independentemente do Criador, para que eles pudessem dizer: “Eu fiz do meu jeito”.
Hoje, Satanás oferece prosperidade material para criaturas caídas e destituídas: “Você pode ser mais rico”. E você pode fazer isso do seu jeito, agora mesmo. A desobediência inicial do primeiro casal e a subsequente desobediência de seus descendentes, parece ser um clamor de independência do seu Criador.
Satanás sabe bem como explorar esse aspecto da nossa humanidade. Ele encontrou Cristo no deserto após ter Cristo deixado para trás a sua glória, seus direitos como a segunda pessoa da Trindade, e após tomar sobre si a fraqueza da carne humana. Nessa condição, o que a antiga serpente ofereceu a ele? “Riquezas, glória, poder possível de ser conquistado do seu jeito, Jesus, e aqui mesmo. Você não tem que esperar, você não tem que trabalhar por isso, você não tem que sofrer para obter os reinos deste mundo, e você não tem que depender do seu Pai. Apenas me adore, Jesus!” O Filho de Deus resistiu, mas a humanidade repetidas vezes se curva a mamon. O homem caído pensa que dinheiro é a fonte de felicidade, poder, conforto e até mesmo saúde. Talvez seja por isso que Gordon Fee diga que “De fato, a teologia nesse novo ‘evangelho” parece muito mais adequada ao “Sonho Americano” do que o ensino daquele que não tinha ‘lugar para repousar a cabeça’”.[1]
A fome por independência (Gn 3.1-7), a fome por riquezas (Js 7.16-21), a fome por imortalidade (Ec 3.11) e a impaciência da criatura (1Sm 13.8-15) tornam o homem especialmente suscetível a esse tipo de evangelho herético. Como podemos ver, as ofertas de Satanás naquela época e agora são similares em seu conteúdo, mas ele é um mestre em mudar o embrulho de seus “presentes”.
2. Narcisismo e a cultura do direito
Abordamosa natureza do coração humano, e agora vamos lidar com o coração da nossa geração. Narcisismo é um termo que muitos usam para descrever pessoas cuja busca na vida é a autogratificação à qual elas sentem ter direito. De fato, toda a indústria de marketing é dominada por este sentimento: “Você merece o luxo deste carro”; “Cuide de você mesmo, porque ninguém mais vai cuidar”; “Você merece férias em um resort”, e centenas de outras frases similares. Se as pessoas estão dispostas a acreditar em tais mentiras, imagine como elas se sentem quando ouvem um pastor pregando que Deus quer que você seja rico e saudável, ou que você deveria ter o melhor que a vida pode te proporcionar agora. Membros dessa cultura do direito podem concluir que até mesmo Deus acredita que nós merecemos riquezas e saúde incondicionais. Então o crente não se aproxima de Deus com um coração humilde e contrito, buscando a sua graça, mas com uma postura orgulhosa, esperando as bênçãos merecidas.
Houve um tempo em que até mesmo a população em geral no ocidente confiava na providência de Deus para orquestrar a história e até prover para o povo. Mas a cultura hoje não é essa. Agora sentimos que devemos ter o que quisermos e quando quisermos, porque é meu direito constitucional ser feliz. Se o governo não pode prover isso, então outros deveriam. E se eles não podem, então o Deus que me criou deveria ser esse fornecedor. Alguns até mesmo se iram com Deus por não fornecer o que eles desejam. Ravi Zacharias escreve: “Nós estamos vivendo em um tempo em que a máxima de G.K. Chesterton provou ser verdadeira. A insignificância não vem de fatigar-se da dor, mas de fatigar-se do prazer. Nós nos exaurimos nesta cultura indulgente”.[2]
3. Ceticismo e pragmatismo
Ao mesmo tempo em que essa cultura de direito surgiu, o movimento pós-moderno das últimas décadas produziu um vácuo da verdade, lançando fora os absolutos. Na ausência da verdade, as pessoas começaram a ficar cada vez mais céticas e, portanto, mais pragmáticas. Muitos pregadores abraçaram essa mentalidade. Em vez de nos chamarem para seguir Jesus como a Verdade, o Caminho e a Vida, eles proclamam um pragmático evangelho do “como fazer” que nos diz como resolver os nossos problemas, especialmente aqueles relacionados às finanças e enfermidades.
Quando o pragmatismo invade o púlpito, a exposição é colocada de lado e a ignorância bíblica se torna seu fruto. Agora as ovelhas se tornam mais vulneráveis a todo tipo de mentira. O pragmatismo tem por alvo o homem e a sua vida conveniente; já a exposição da Palavra tem por alvo Deus e a sua glória.
Leia atentamente o que Joseph Haroutunian, um teólogo presbiteriano do passado recente (1904-1968), disse: “Antes, a religião era teocêntrica. Antes, o que quer que não conduzisse à glória de Deus, era infinitamente mau; agora o que não conduz à felicidade do homem é mau, injusto e impossível de atribuir à Deidade.  Antes, o bem do homem consistia, em última análise, em glorificar a Deus; agora, a glória de Deus consiste no bem do homem”.[3] A nossa sociedade se tornou utilitária até o âmago.
Ora, de algumas maneiras isso não é novo, visto que não há pecados novos debaixo do céu. Mas a remoção da sociedade de certas limitações como pudor, culpa e dever, deixou o campo aberto para tais tendências do coração humano correrem soltas. Para uma geração tão egocêntrica e gananciosa como a nossa, o evangelho da prosperidade é a receita certa.
Quando os membros desta sociedade se convertem, eles precisam de uma transformação total de cosmovisão que só o evangelho pode fornecer. Infelizmente, muitos pregadores concluíram que não-cristãos hoje não ouviriam o evangelho de Cristo com todas as suas demandas. “Quem iria querer ouvir uma mensagem sobre o custo do discipulado?” eles pensam. “Quem quer ouvir sobre o fato de que neste mundo você terá tribulações?” O verdadeiro evangelho foi substituído por um que seria mais apropriado para a nossa geração: um evangelho de riquezas, saúde e felicidade. E muitas pessoas estão comprando o “evangelho” que esses pregadores estão vendendo.
4. Uma maior distribuição de riquezas
Em 1999, Angus Maddison, professor emérito na Groningen University, publicou um artigo intitulado “Poor until 1820” (Pobres até 1820, em tradução livre), no qual explicou que “após a queda do Império Romano, o ocidente entrou em uma recessão que durou cerca de um milênio. Após a Revolução Industrial, devido à produção em massa, a renda per capita começou a crescer regularmente”.[4] Isso é verdade até mesmo para o continente africano, embora em um grau menor. Conforme esperado, maior renda criou maior demanda. Conforme a produção crescia, cresciam também as alternativas para satisfazer o gosto e as preferências das pessoas.
Isso sem dúvida fomentou o materialismo. Novamente, as estratégias de marketing foram projetadas para vender produtos baseando-se na satisfação que eles trariam ao consumidor. Portanto, quanto mais eu possuísse, mais feliz eu seria. Mas eu preciso de dinheiro para comprar os produtos que eu quero, e se o dinheiro pode ser provido por Deus através do evangelho da prosperidade, então eu não seria apenas rico, mas também me sentiria abençoado. “Por que não?” muitos perguntariam. Afinal, nós somos filhos do Rei, portanto merecemos viver como seus príncipes. Qualquer um familiarizado com a pregação da prosperidade já ouviu essa fala comum.
Como Salomão teria testificado, maior renda nem sempre resulta em maior satisfação, mas apenas em possessão de mais coisas. Contudo, muitas pessoas não concluem que coisas não podem trazer felicidade. Em vez disso, pensam que o problema se deve ao fato delas não possuírem o suficiente do que quer que desejam. Eis aqui o conselho de Salomão para aqueles que ainda não estão convencidos:
Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. (Ec 5.10-12)
Imagine viver em um bairro muito carente, vendo gente rica vivendo de um jeito muito diferente do seu. A conclusão no passado era: “Eu preciso trabalhar mais para que, um dia, eu possa viver daquele jeito”. Hoje, muitos desejariam o mesmo sonho, e eles desejam alcançá-lo com mais facilidade. A maior distribuição de renda não produziu uma melhor ética de trabalho, mas simplesmente um apetite maior por mais.
O ´Sonho Americano´ em Exposição
Toda heresia nasce em algum lugar. O evangelho da prosperidade nasceu nos Estados Unidos, e há algo na história desse país que ajudou a promover esse movimento. Em seu livro de 1931 The Epic of America (A Epopéia Americana, em tradução livre), James Truslow Adams afirmou que o Sonho Americano é “aquele sonho de uma terra em que a vida seria melhor, mais rica e mais plena para todos, com oportunidades para todos de acordo com as suas habilidades ou conquistas”.[5] Essa ética nacional criou uma nação próspera.
Anos atrás, as pessoas ouviam falar da prosperidade nos Estados Unidos e queriam vir e ver essa prosperidade, assim como a rainha de Sabá queria ver o reino de Salomão (1 Reis 10). Hoje, você não tem que vir aos Estados Unidos para ver a prosperidade, você pode simplesmente ligar a sua televisão, não importa em qual distante ou pobre lugar você viva. O programa de televisão “Lifestyles of the Rich and Famous” (O Estilo de Vida dos Ricos e Famosos, em tradução livre) se tornou muito popular, não apenas nos Estados Unidos, mas também fora deles; não apenas por causa da curiosidade, mas porque ele deu às pessoas a capacidade de sonhar por um momento.
Países poderosos exportam muitos produtos, mas também exportam as suas crenças e culturas. E em nossa época, nós exportamos até mesmo o evangelho da verdade e o evangelho do engano ao mesmo tempo através dos mesmos canais. Desde quando os Estados Unidos se tornaram uma nação rica, onde todos parecem prosperar, qualquer mensagem que vem de lá deve ser verdadeira, especialmente essa mensagem de prosperidade. Essa é a mentalidade de muitos na América Latina, e suspeito que em muitos outros lugares também.
Infelizmente, quando as pessoas assistem à televisão, elas não apenas sonham em ter um estilo de vida com o qual elas não podem arcar, mas se tornam mais gananciosas. A ganância é uma característica do coração que obscurece o entendimento e escraviza a vontade. Quando tal mente é exposta ao evangelho da prosperidade, ele encontra solo fértil para essa semente maligna. Os produtores conhecem o efeito da televisão nas vidas das pessoas, então eles gastam grandes somas de dinheiro para nos servir de imagens. Os produtores sabem disso muito bem; os consumidores não. Se um membro de igreja adota os mesmos hábitos televisivos de uma pessoa na rua, no final ele pode acabar se parecendo mais com um pagão do que com um cristão. Isso pode ajudar a explicar o motivo de até crentes legítimos terem sido capturados por tais falsos mestres.
Quer ouçam, quer deixem de ouvir
O evangelho da prosperidade é o resultado dos desejos de um coração caído, que vive no meio da abundância, em uma cultura que reivindica o “eu primeiro”, que valoriza o conforto, os bens materiais e escolhas, em busca de desfrutar a vida aqui e agora. Uma vez que esse “evangelho” (que não é evangelho algum) nasceu, foi facilmente disseminado devido à globalização. Todos os meios de comunicação e de transporte foram usados para carregar as boas novas e essas más novas. Hoje temos que dizer não apenas que ideias têm consequências, mas também que ideias viajam rapidamente. Também precisamos lembrar que é mais fácil disseminar uma mentira do que desfazer seu estrago.
Para deixar as coisas piores, tudo isso foi acompanhado por uma fome da Palavra de Deus no púlpito e uma falta de confiança na Palavra para destruir os ídolos do coração e mudar as mentes das pessoas. Em vez disso, muitos fizeram o que Arão fez no deserto: ele deu ao povo o que o povo queria; um bezerro de ouro para adorar.
Então, o que devemos fazer? Pregar o evangelho “quer ouçam, quer deixem de ouvir” (Ez 2.5), e confiar no poder da Palavra de Deus para fazer repetidas vezes o que ela sempre fez: converter a alma, iluminar a mente, quebrar o jugo do pecado e trazer alegria para a pessoa como um todo.

[1] Gordon D. Fee, The Disease of the Health and Wealth Gospels (Vancouver: Regent College Publishing, 2006), edição para kindle, Loc 28.
[2] Ravi Zacharias, “An Ancient Message, Through Modern Means to a Postmodern Mind,” em Telling the Truth, editado por D.A. Carson (Grand Rapids: Zondervan, 2000), 28.
[3] Citado por Erwin Lutzer em 10 Lies about God and the Truth that Shatter Deception, (Grand Rapids: Kregel, 2009), 8.
[4] Per Capita Income in World History, http://www2.econ.iastate.edu/classes/econ355/choi/rankh.htm; acessado em 15 de novembro de 2013.
[5] The American Dream; Biblioteca do Congresso, (http://www.loc.gov/teachers/classroommaterials/lessons/american-dream/students/thedream.html), acessado em 15 de novembro de 2013.
Tradução: Alan Cristie

Como o Inferno Glorifica a Deus?

James M. Hamilton Jr. 03 de Abril de 2014 - Deus
Para entendermos a maneira como o inferno glorifica a Deus, precisamos ver o inferno à luz da grande história da Bíblia, do seu ponto de vista e da sua caracterização de Deus e do homem.
A Grande História da Bíblia
A história da Bíblia, como todas as histórias, tem um começo, um meio e um fim.
O começo
Deus cria um lugar perfeito e coloca nele um homem e uma mulher inocentes. Deus estabelece os termos e afirma, com clareza, a consequência de transgredirem seus termos. Um inimigo mente para a mulher inocente. Ela acredita na mentira, quebra os termos de Deus, e o homem a acompanha no pecado. Deus amaldiçoa o inimigo e dá início às consequências da transgressão, amaldiçoando também a terra. Na maldição lançada sobre o inimigo, Deus afirma que o descendente da mulher ferirá a cabeça do inimigo, enquanto o inimigo ferirá o calcanhar do descendente. O homem e a mulher são banidos do lugar perfeito.
Meio
A humanidade foi dividida em dois grupos: a descendência da mulher e a descendência da serpente, os justos e os ímpios. Os descendentes da mulher são inicialmente um subconjunto da nação de Israel, uma linhagem de descendentes que Deus escolheu abençoar. Eles experimentam um refazer do começo da história. Deus os coloca em uma terra prometida e estabelece os termos. Eles quebram os termos e são banidos dessa terra, mas Deus continua a prometer que o inimigo será derrotado, ainda que isso tenha que acontecer por meio de um doloroso derramamento de sangue do descendente da mulher.
Então, Jesus vem como o descendente prometido da mulher. Ele esmaga a cabeça do inimigo, e o inimigo fere o seu calcanhar – Jesus morre na cruz. Por ser ele inocente e haver resistido a todas as tentações, a morte não pode retê-lo. Jesus vence triunfantemente a morte, satisfazendo a justiça de Deus contra o pecado e abrindo o caminho de salvação para todos os que crerão nele.
Fim
A criação será como uma mulher que sofre dores em trabalho de parto: os ímpios atacarão perversamente os justos, que confiam em Deus e dão testemunho da verdade de Deus, até serem mortos. Isto continuará até que Jesus venha de novo. Quando Jesus vier de novo, julgará os ímpios e os enviará à punição eterna. Ele levará aqueles que creram na Palavra de Deus e no testemunho de Jesus para um novo lugar perfeito.
A Bíblia nos Dá o Ponto de Vista de Deus...
Esta história não é simplesmente uma história; ela apresenta o ponto de vista de Deus sobre o mundo. Pense comigo no ponto de vista da Bíblia, a perspectiva dos autores bíblicos.
O ponto de vista deles é que Deus estabelece os termos e que Deus sempre está certo. Aqueles que rejeitam os termos de Deus estão errados e enfrentam as consequências que Deus afirmou quando estabeleceu os termos. Além disso, a Bíblia não somente representa o ponto de vista dos autores bíblicos, mas também reivindica falar por Deus. Ou seja, a Bíblia reivindica apresentar o ponto de vista de Deus sobre o assunto.
...Sobre Deus, o Homem e o Nosso Estado Diante de Deus
Como são apresentados os personagens na Bíblia? Eles são apresentados principalmente por suas palavras e ações, mas a Bíblia também avalia seus personagens. Pensemos brevemente como a Bíblia caracteriza Deus, os homens e Jesus.
A Bíblia ensina que Deus sempre faz e diz o que é correto. Ele sempre cumpre a sua Palavra. Nada pode frustrar o seu propósito. Deus é livre e bom. A Bíblia sempre justifica a Deus. Ou seja, a Bíblia sempre mostra que Deus é justo. Paradoxalmente, a Bíblia também mostra que Deus é misericordioso.
Por outro lado, todos os homens fazem e dizem o que é errado, o que revela falta de confiança em Deus. Por palavras e atos, os humanos transgridem os mandamentos de Deus. Os homens corromperam a boa criação de Deus, perverteram seus ótimos dons e, de toda maneira, têm atacado a Deus, que lhes dá vida e todas as coisas boas. Por isso, todos os humanos merecem condenação.
Como afirmamos antes, há dois grupos de humanos. Um grupo é caracterizado por confiar em Deus, concordar com seus termos, confessar que têm quebrado os termos, abandonar suas transgressões e procurar crer nas promessas de Deus, de modo que possam viver de acordo com os seus termos. O outro grupo rejeita Deus e seus termos, se recusa a admitir sua culpa, se recusa a abandonar o mal e se une ao inimigo.
Jesus mostrou por suas palavras e atos que era plenamente humano e plenamente Deus. Jesus nunca transgrediu os mandamentos de Deus. Ele resolveu o grave problema. Jesus se deu em favor de outros. Qualquer que se opõe a ele ou o rejeita está se opondo à bondade e ao amor e rejeitando-os. Qualquer que se opõe a ele e o rejeita merece condenação. Aqueles que o recebem e se unem a ele, fazem isso nos termos dele, que são os termos de Deus e envolvem confissão de pecado, arrependimento e confiança em Jesus.
Então, Como o Inferno Glorifica a Deus?
Como tudo isto nos ajuda a entender como o inferno glorifica a Deus?
Este mundo é a história de Deus. Ele falou e o trouxe à existência, e o mundo continua a existir porque Deus continua falando. O universo é sustentado pela palavra do poder de Deus. É a sua história. Ele é o Autor cujo ponto de vista é comunicado na Bíblia e cujas caracterizações definem os participantes no drama.
O inferno é um ato de Deus em cumprir sua Palavra. O fato de que Deus manda os ímpios para o inferno mostra que ele é fiel e justo. Se Deus não aplicasse os termos que ele mesmo estabeleceu, não cumpriria sua Palavra e seria infiel. Se Deus não enviasse os ímpios para o inferno, ele não manteria seu próprio padrão de justiça e não seria justo. Se Deus não punisse os rebeldes no inferno, os justos não seriam vindicados. De fato, se não houvesse realmente inferno, poderíamos concluir que os justos estavam errados por terem confiado em Deus.
No entanto, o inferno existe e os justos são sábios por confiar em Deus. O inferno mostra a glória da justiça de Deus. O inferno vindica aqueles que obedecem aos termos de Deus, ainda que sofram terrivelmente por fazerem isso. O inferno vindica os justos que foram perseguidos pelos ímpios. O inferno glorifica a Deus.
Você não concorda com isso? Pode muito bem se unir a Shere Khan em opor-se a Rudyard Kipling. Ou, de novo, poder ter tanta chance de mudar o enredo, o ponto de vista ou a definição dos personagens, quanto Sauron teve de mudar a mente de Tokien. Isso não acontecerá. Você é uma criatura na obra de arte do Criador. Aceite o fato. Ele é o Criador, não você. Quanto deveríamos levar a sério aqueles que se opõem ao inferno ou tentam reescrever a história para que o inferno não seja parte dela? Com tanta seriedade quanto tomamos Hamlet criticando a obra de Shakespeare. Hamlet não teve existência independente. Ele só poderia criticar Shakespeare se o autor decidisse escrever essa cena.
Deus criou um universo em que a sua misericórdia tem significado precisamente porque não anula a sua justiça. Para ser justo e demonstrar misericórdia, Deus tem que cumprir sua promessa de punir a transgressão. Na apresentação bíblica da verdadeira história do mundo, Deus mantém a justiça na cruz e no inferno. Jesus morreu na cruz para estabelecer a justiça de Deus e garantir que os que se arrependem do pecado e creem em Cristo recebam misericórdia que é também justa. Deus pune os ímpios no inferno para manter a justiça contra todos os que se recusam a arrepender-se do pecado e dar graças a ele.
Em resumo, o inferno glorifica a Deus porque:
· Mostra que Deus cumpre sua palavra;
· Mostra a infinita dignidade de Deus, a qual dura para sempre;
· Demonstra o poder de Deus em subjugar todos os que se rebelam contra ele;
· Mostra quão indizivelmente misericordioso ele é para com aqueles que confiam nele;
· Confirma a realidade do amor por trazer justiça contra aqueles que rejeitam a Deus, que é amor;
· Vindica todos os que sofreram por ouvir ou proclamar a verdade da Palavra de Deus;
· E mostra a enormidade do que Jesus realizou quando morreu para salvar, do inferno que mereciam, todos os que creriam nele. Se não houvesse o inferno, não haveria a necessidade da cruz.

5 mentiras que o pecado me conta

mentiras-pecado
“o pecado… me enganou e me matou” (Rm 7.11)
O pecado busca nos enganar com suas mentiras e não é só no dia 1 de Abril. Aqui estão 5 mentiras que ele nos conta:
MENTIRA: Este é um pecado tão pequeno, insignificante! Não é realmente grande coisa aos olhos de Deus.
VERDADE: Todo pecado é uma terrível ofensa a Deus. O pecado é a soma de todos os males, o oposto de tudo que é bom, santo e belo. Até mesmo o menor dos meus pecados exigiu a morte do Filho de Deus. Não existe isso de pecadinho. Todo pecado é uma traição cósmica.
MENTIRA: Eu vou ceder ao pecado desta vez, aí acaba. Eu só preciso tirá-lo do meu sistema.
VERDADE: Toda vez que caio em um pecado torna-se mais difícil quebrar o poder desse pecado. O pecado tem uma maneira de afundar seus ganchos farpados profundamente em meu coração. Eu não posso simplesmente pecar e depois me afastar ileso. Quanto mais eu ceder ao pecado, mais enredado eu fico. O pecado sempre deixa cicatrizes.
MENTIRA: Este pecado é parte de quem eu sou. Eu sempre luto contra isso e eu sempre vou pecar dessa forma.
VERDADE: O pecado não define a minha identidade! Eu sou uma nova criatura em Cristo. Cristo me libertou do poder escravizador do pecado. Eu definitivamente não tenho que obedecer às paixões pecaminosas que surgem em mim. Talvez eu tenha que lutar contra isso para sempre, mas o meu passado não define o meu futuro.
MENTIRA: Eu preciso cair nesse pecado para ser feliz.
VERDADE: O pecado nunca fornece a verdadeira felicidade. Ele promete doçura, mas em ultima instância oferece uma carga de destruição, insatisfação, relacionamentos arruinados e dureza de coração.
MENTIRA: Deus quer que eu seja feliz, por isso está tudo bem cair em pecado.
VERDADE: Deus quer mesmo que eu seja feliz. No entanto, a minha felicidade só crescerá tão alto quanto a minha santidade. O pecado, por fim, corrói e destrói a verdadeira santidade e verdadeira felicidade
Por Stephen Altrogge. © 2013 The Blazing Center. Original: Five Lies Sin Tells Me
Tradução: Josie Lima | Reforma21.org. Original: Cinco mentiras que o pecado me conta

domingo, 6 de abril de 2014

A Carta de Campina Grande

Já por 16 anos é realizado em Campina Grande, PB, no período do carnaval, um dos maiores eventos evangélicos do Brasil, que é o Encontro para a Consciência Cristã. O evento reuniu este ano milhares de pessoas do Brasil e do exterior, com preletores nacionais e internacionais das mais diversas tradições evangélicas. O público estimado por noite foi de dez mil pessoas, com uma estimativa de mais de cem mil pessoas passando pelas dezenas de reuniões, encontros e eventos que aconteceram simultaneamente durante os dias do evento.
Na noite do encerramento foi promulgada uma carta, assinada por todos os preletores, refletindo os temas centrais anunciados e os compromissos assumidos durante o evento.
A carta se encontra abaixo, na íntegra. Minha oração é que ela seja usada para promover o Evangelho bíblico e a unidade espiritual entre verdadeiros cristãos. 
CARTA DE CAMPINA GRANDE
Nós, membros da igreja de Jesus Cristo, participantes do 16º Encontro para a Consciência Cristã, celebramos a comunhão que desfrutamos com o povo de Deus, unidos ao redor do evangelho de Cristo.
No início deste século e milênio a igreja evangélica brasileira tem enfrentado imensos desafios e inesperadas oportunidades. O crescimento numérico das denominações evangélicas tem sido notório, levando-nos à plena convicção de que o Deus Todo-Poderoso tem salvado um número incontável de pessoas para a glória do seu Nome. Entretanto, é possível constatar que uma parcela significativa do evangelicalismo brasileiro tem abandonado o compromisso com o evangelho ensinado por Cristo.
Lamentavelmente, um tipo crasso de religiosidade popular tem prevalecido na mídia e na proliferação de templos e denominações, causando escândalo para a fé cristã e distanciando as pessoas que mais necessitam do poder transformador do evangelho. Ao mesmo tempo, muitas igrejas têm se omitido no cumprimento da Grande Comissão, deixando-se influenciar por um avançado processo de secularização. Crescem por oferecer entretenimento e não por fazer discípulos radicalmente comprometidos com Cristo. Pensadores evangélicos antes consagrados à proclamação do evangelho da Salvação Eterna hoje pronunciam-se publicamente rompendo com as convicções que um dia defenderam. Os líderes já não são mais vistos como referências de espiritualidade e integridade, mas como embusteiros, que exploram a credulidade do povo, enriquecendo ilicitamente. Nesse cenário, muitas igrejas conservadoras, ainda que mantendo fidelidade às doutrinas evangélicas fundamentais, mantêm-se apáticas em relação ao desafio missionário e à tarefa de influenciar a sociedade como sal da terra e luz do mundo.
Por outro lado, vemos um país sucumbindo diante da corrupção sistêmica, da violência generalizada, da desagregação familiar, do abandono dos valores cristãos, da desigualdade social e de práticas ocultistas.
Diante dessa realidade, oramos por um avivamento espiritual em terras brasileiras. Não um avivamento de emocionalismo e misticismo, que não produz transformações duradouras, mas um que, como ocorreu em outros lugares e outros tempos, proporcionou a conversão verdadeira de milhares e até milhões de pessoas, chegando a mudar o rumo de nações. Para demonstrar nosso compromisso com o avivamento da igreja brasileira, nós declaramos juntos:
NÓS CREMOS NO EVANGELHO
O evangelho de Jesus Cristo é a boa notícia da salvação graciosa de Deus somente pela fé em Jesus Cristo. Nós não compactuamos com as grandes distorções da mensagem cristã, ensinadas por grupos que, em sua essência, exploram a credulidade do povo e buscam o enriquecimento ilícito em nome do evangelho. De acordo com as Escrituras, esses são lobos vorazes, mercadores da fé, charlatães. Sua existência não nos surpreende, pois, desde o início, Jesus e os apóstolos nos alertaram contra suas práticas.
O evangelho de Cristo exalta Deus que, em sua santidade, justiça e amor, oferece ao ser humano caído salvação através do sacrifício redentor de Cristo, o Messias prometido, o Filho de Deus. Afirmamos que ninguém pode ser justificado por suas obras, pois todos pecaram e distanciaram-se da glória de Deus. Somente pela fé em Cristo como Senhor e Salvador, o ser humano é salvo dos seus pecados e transformado em nova criatura.
NÓS PROCLAMAMOS O EVANGELHO
A missão principal da igreja é glorificar a Deus, proclamando o evangelho e fazendo discípulos de todas as nações.
Reconhecemos que a igreja foi chamada para proclamar o evangelho em sua inteireza, mas nos recusamos a vinculá-lo a ideologias políticas ou agendas de ambições pessoais. Cremos que o evangelho deve ser proclamado nos termos e ênfases do evangelho, não nas circunstâncias mutáveis da sociedade. Nós proclamamos o evangelho em sua totalidade, sem omitir seus aspectos essenciais como a justiça e a santidade de Deus, a culpa do ser humano, a salvação somente pela fé, a ressurreição dos mortos, o julgamento final, o céu e o inferno. Nós proclamamos o evangelho a todas as pessoas, independentemente de raça, nacionalidade, sexo, religião ou condição social. Cremos que todas as pessoas precisam ouvir o evangelho em sua própria língua e cultura, de forma contextualizada, que tenham a oportunidade de ser discipuladas e fazer discípulos, formando igrejas locais autóctones comprometidas com o pleno ensino do Reino de Deus, fazendo da proclamação do evangelho um estilo de vida.
Nós repudiamos mensagens que substituam o evangelho de Cristo por conteúdos humanistas de autoajuda, que promovam um misticismo desvinculado das Escrituras e transformem Deus em um negociador de bênçãos.
NÓS DEFENDEMOS O EVANGELHO
Desde os seus primórdios, o ensino de Cristo esteve sob o ataque de crenças e filosofias hostis à mensagem da salvação pela graça mediante a fé. Somos chamados a lutar diligentemente por essa fé que nos foi entregue de uma vez por todas, estando preparados para dar razão da esperança que existe em nós e vigiando contra lobos vorazes que não poupam o rebanho. A defesa da fé faz parte essencial da missão da igreja enquanto ela proclama o evangelho de Cristo. Nós rejeitamos o evangelho do relativismo pós-moderno, do ateísmo militante, do secularismo pragmático, do liberalismo teológico, das seitas e cultos, do nominalismo religioso, de todas as ideias e ideologias que se levantam contra ou pretendem substituir o evangelho de Cristo. Nós afirmamos nossa plena convicção na existência de Deus, em sua revelação objetiva e inerrante através das Escrituras, na singularidade de Cristo e na realidade da eternidade. Nós defendemos o evangelho com amor, sabedoria, compaixão e firmeza, sem qualquer contemporização, visando a conversão dos perdidos e a proteção daqueles que crêem, na firme convicção de que o próprio Jesus edificará sua igreja e a portas do inferno não prevalecerão contra ela.
NÓS NOS COMPROMETEMOS A VIVER À LUZ DO EVANGELHO
Mártires, reformadores, avivalistas através da história têm assumido o absoluto compromisso com o evangelho. O maior apelo para a veracidade do evangelho é o testemunho de vidas radicalmente comprometidas com ele. Nós nos comprometemos a viver de forma digna do evangelho de Cristo como indivíduos, discípulos, profissionais e cidadãos, recusando-nos a ceder ao materialismo, ao relativismo e à corrupção, aceitando carregar a cruz de Cristo como prioridade absoluta do testemunho do evangelho de Cristo. Como cidadãos do reino de Deus, assumimos o compromisso de, na dependência da graça de Cristo, viver o poder transformador do evangelho em todas as suas dimensões. Diante da corrupção generalizada e do relativismo moral na sociedade brasileira, nós estamos prontos para assumir as plenas implicações éticas e morais do evangelho, não somente na esfera da igreja, mas também da sociedade: educação, trabalho, política, economia, cultura.
NÓS ORAMOS PELO PROGRESSO DO EVANGELHO
Reconhecemos que, sem a intervenção soberana e sobrenatural de Deus, não veremos o verdadeiro progresso do evangelho. Esforços humanos produzem resultados humanos. Através da história, o evangelho tem impactado nações pelo poder do Espírito Santo. Embora o Brasil nunca tenha experimentado um avivamento espiritual de grandes proporções, nós nos comprometemos diante de Deus a orar por esse avivamento, na expectativa de uma transformação radical no curso de nossa nação através da igreja do Senhor, cheia do Espírito Santo, vivendo a plenitude do evangelho.
NÓS NOS UNIMOS PELO EVANGELHO
Dizemos não a uma união que compromete a essência do evangelho de Cristo. Não cremos que todos os caminhos levam a Deus, pois Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Não cremos que todas as instituições ditas cristãs de fato seguem a Cristo, pois muitas afirmam o nome de Cristo sem conhecê-lo. Mas afirmamos sim nosso compromisso de unidade com todos aqueles que abraçam o evangelho de Cristo, como nos foi transmitido por Jesus e seus apóstolos. Ao mesmo tempo, reconhecemos que as verdades essenciais, comuns a todos os evangélicos herdeiros da Reforma, podem nos unir não institucionalmente, mas como corpo vivo de Cristo, que, na sua diversidade, cumpre a sua missão. Desejamos ser a resposta a oração de Cristo quando ele orou para que fôssemos um. Nós nos unimos pela proclamação do evangelho a todas as nações.
Assim, confiantes na graça de Deus, assumimos este compromisso diante de Deus e de seu povo para vermos em nossa nação brasileira um poderoso progresso do evangelho de Cristo.
Subscrevemos,
Pr. Euder Faber Guedes Ferreira (Coordenador do 16º Encontro para a Consciência Cristã) 
Pr. Jorge Noda (ILEST/PB) 
Pr. Renato Vargens (ICA/RJ) 
Dra. Norma Braga (IPB/RN) 
Pr. Paul Washer (Heart Cry/EUA) 
Pr. Hernandes Dias Lopes (IPB/ES) 
Dr. Russell Shedd (IB/SP) 
Pr. Augustus Nicodemus (IPB/SP) 
Pr. Ronaldo Lidório (IPB/AM) 
Dr. Heber Campos Jr. (IPB/SP) 
Pr. Jonas Madureira (IB/SP) 
Pb. Solano Portela Neto (IPB/SP) 
Prof. Adauto Lourenço (IPB/SP) 
Pr. Joide Miranda (MEI/MT) 
Pr. José Bernardo (AMME/SP) 
Pr. Geremias Couto (AD/RJ) 
Prof. Ricardo Marques (IBC/CE) 
Pr. Joaquim de Andrade (CREIA/SP) 
Miss. Gleydice Bernardes (ACEV/PB) 
Miss. Socorro Teles (IPB/PB) 
Pr. Robson Tavares (ICNV/PB) 
Pb. José Mário (IPB/PB) 
Pr. Luiz Vieira (ICNV/PB) 
Pr. Valter Vandilson (ICD/PB) 
Pr. José Américo (IB/PB) 
Pr. José Pontes (IN/PB) 
Miss. Joyce Clayton (Inglaterra) 
Profª. Janeide Andrade (OBPC/PB) 
Miss. Edna Miranda (MEI/MT) 
Miss. Rosali Melo (IC/PB) 
Dra. Paumarisa Vieira (IPB/PB) 
Pr. Weber Alves (ICES/PB) 
Jorn. Josué Sylvestre (AD/PR)

Lendo a Bíblia Hoje

Alguns aspectos da pós-modernidade - nome que se dá à época em que estamos vivendo - se constituem em sérios desafios à leitura bíblica feita pelos reformados, mesmo aqueles que nunca ouviram o nome "pós-modernidade". 

Os reformados têm tradicionalmente interpretado as Escrituras partindo de alguns pressupostos oriundos da Reforma protestante. O mais importante deles é que as Escrituras são divinas, em sua origem, infalíveis e inerrantes no que ensinam, seguras e certas no seu ensino. Para eles, a Bíblia é a revelação da verdade. Em decorrência, só existe uma religião certa, a que se encontra revelada na Bíblia. Logo, no raciocínio reformado, tudo o que é necessário à vida eterna e à vida cristã aqui nesse mundo estão claramente reveladas na Escritura. E tais coisas são claramente expostas nela.

Existem alguns aspectos da pós-modernidade que desafiam esse pressuposto central da interpretação reformada das Escrituras.

1) O conceito de tolerância. Eu me refiro à idéia contemporânea de total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais. Neste conceito de tolerância, as pessoas nunca externam seu próprio ponto de vista de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não deve ser confundida com a tolerância cristã, pois ela resulta da falta de convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: "A tolerância é a virtude do homem sem convicções" (G. K. Chesterton). A tolerância da pós-modernidade é fortalecida pela queda na confiança na verdade, atitude típica de nossa época.

É preciso observar que existe uma tolerância exigida do cristão. Devemos tolerar as pessoas. Todavia, não temos de tolerar suas crenças, quando estas contrariam a verdade de Deus revelada nas Escrituras. Temos o dever de ouvir o que elas tem a dizer, e aprender delas naquilo em que se conformam com a verdade bíblica. Porém, tolerância ao erro, quando a verdade bíblica está em jogo, é omissão.

A tolerância tão característica da pós-modernidade pode afetar a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretá-la a partir do conceito de "politicamente correto." Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento que venha a ser ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra. Textos bíblicos que denunciam claramente determinados comportamentos morais são domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas típicas dos moralistas machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em outras religiões.

2) O inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais são multiculturais e têm uma mescla de diversas raças. Para que não se seja ofensivo, e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças representadas.

Na sociedade pós-moderna, o conceito ser estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como por exemplo, os homossexuais, pobres e minorias étnicas.

Existem coisas boas do inclusivismo multiculturalista, como por exemplo, estudos nos meios acadêmicos sobre a cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos, hispânicos e orientais. Também a criação de bolsas de estudos e empregos para membros destas minorias raciais, bem como de grupos oprimidos, como as mulheres. Ainda digno de nota é a luta contra discriminação baseada tão somente em raça, religião, postura política e gênero.

Mas existem coisas que nos preocupam no inclusivismo. A maior de todas é que o inclusivismo exclui qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos, e de justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural e multi-moral funcione.

O inclusivismo acaba também influenciando na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada teologia da libertação (meio defunta hoje) e as teologias feministas. 

3) O relativismo. No que tange ao campo dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a idéia de que todos os valores morais e as crenças religiosas são igualmente válidos e que não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência.

Existem alguns perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia. Primeiro, o relativismo acaba por minar a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta. Segundo, acaba por individualizar a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé.
Muitos cristãos são tentados a suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos que não são "politicamente corretos" como: pecado, culpa, condenação, ira de Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as pessoas.

Esses são alguns dos perigos que a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele gostaria que ouvíssemos.

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NOÉ no BRASIL !!

Não, não vou falar do filme NOÉ. Afinal, já tem muita gente falando e dando opinião a respeito dele. Mas confesso que vou pegar a "onda" (desculpe o trocadilho atroz) e repostar um texto que traduzi, que ronda a Internet ,e tropicalizei-o às condições peculiares de nossa terrinha...

Um amigo meu, sobrevivente da grande cheia recifense de 1975, teve um pesadelo. Ele testemunhava o que ocorria com Noé, só que o patriarca morava no Brasil, nos nossos dias:
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Noé nunca tinha visto chuva em sua vida e fica espantado quando ouve uma voz retumbante dizendo: “Em um ano eu farei chover sobre toda a terra. Ela será coberta com água até que tudo esteja destruído, começando aí no Brasil, mas quero que você salve os justos e dois espécimes de cada animal. Assim, estou lhe comandando a construir uma ARCA”!

No meio de um relâmpago, num piscar de olhos, caem às mãos de Noé os desenhos e todas as especificações da Arca a ser construída.

Tremendo de pavor, Noé pega o projeto e concorda com a construção da Arca. “Lembre-se”, diz a voz, “Você tem que terminar a Arca e ter tudo e todos a bordo dentro de um ano”.

Passa-se exatamente um ano, no sonho, e uma tormenta monumental cobre toda a terra. Os mares estão agitados e tumultuados, mas Noé está sentado no terreno de sua casa, chorando!

“Noé”, ressoa novamente a voz, “onde está a ARCA”?

“Perdoe-me”, clama Noé. “Fiz o que eu pude, mas os problemas foram terríveis”!

“Primeiro, eu tive de obter uma licença de construção e o projeto da Arca não se enquadrava no código naval, nem estava assinado por um engenheiro credenciado na Marinha. Tive que contratar uma firma especializada para redesenhar tudo”!

“Depois, fiquei sabendo que o Distrito Naval havia feito um convênio de segurança e entrei numa questão judicial com o CONTRU, pois insistiam que a Arca precisava de uma sistema de ‘sprinklers’ contra incêndios e, além disso, a Capitania dos Portos exigia uma enormidade de coletes-salva-vidas”.

“Ai o meu vizinho ligou para o ‘Psiu’ dizendo que eu estava fazendo muito barulho e depois para a prefeitura, alegando que a construção da Arca no quintal da frente, violava o zoneamento da Capital. Tive que estar presente a cinco audiências na comissão de planejamento municipal até conseguir um certificado de exceção, para dar andamento ao projeto”.
"Quando a ARCA estava com a estrutura pronta, passou um protesto pela frente da minha rua e os Black Blocs tocaram fogo nela, enquanto a polícia olhava de longe, 'protegendo' os manifestantes. Sem chuva, tive um trabalho enorme para apagar o fogo".

“Tive problemas na compra de madeira para construir a Arca em função da proibição de corte de árvores, para proteção do mico-leão na Mata Atlântica. Finalmente, consegui convencer a Secretaria Estadual de Proteção à Fauna e Flora que eu precisava da madeira EXATAMENTE para salvar o mico-leão, mas a Polícia Florestal não me deixou pegar um casal de micos-leão. Sem mico-leão, não havia o que salvar”.

“Os marceneiros que eu havia contratado foram visitados pelo carro de som do Sindicato dos Trabalhadores em Madeira que convenceu-os a procurar a proteção do Sindicato. Na semana seguinte, fizeram uma greve, querendo intervalos para lanche de 2 em 2 horas e recusando-se a trabalhar horas extras. Tive de negociar até com a CUT e agora, em vez dos 8 carpinteiros que contratei quando comecei, tenho 16, que trabalham 5 horas a menos por semana do que os 8 que eu tinha, no início. E ainda não tenho os micos-leão”.

“Quando comecei a juntar os outros casais de animais, fui interpelado judicialmente pela Associação de Proteção aos Animais. Eles argumentavam que eu estava levando somente dois de cada espécie, o que provocaria solidão indevida – caso um dos parceiros rejeitasse o outro, além de confinamento desumano, pelo período em que permaneceriam na Arca”.

“Assim que consegui descaracterizar a legitimidade desse processo, o Ministério do Meio Ambiente, lá de Brasília, me intimou dizendo que eu não poderia completar a construção da Arca, sem dar entrada em um Estudo de Impacto Ambiental do Dilúvio que eu estou anunciando. Disseram que nem o Rodoanel de São Paulo, que vai beneficiar 18 milhões de pessoas eles aprovam, quanto mais uma arca que vai servir a uma família e uma porção de animais. Apesar da minha insistência, eles não consideraram com seriedade meus argumentos de que eles não teriam jurisdição sobre a conduta do Criador. Pensaram até que eu estava falando do Presidente da República”.

“Em paralelo, o Ministério do Exército ficou sabendo dos planos de construção da Arca. As pessoas lá acharam que a questão do dilúvio era prejudicial à segurança nacional e me pediram um desenho detalhado da proposta do dilúvio. Eu enviei para eles um globo terrestre, que eu tinha lá em casa, mas ficaram ofendidos, achando que eu estava ‘tirando sarro’ deles e ameaçam mandar uns Brucutus, aqui para frente de minha casa, para impedir o andamento do projeto”.

“Atualmente estou empenhado em resolver um problema com a Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados. Eles me acusam de discriminação e exigem que, dentro da arca, eu tenha um número idêntico de pessoas que sejam descrentes e neguem a Deus. A militância GAY está exigindo a inclusão de um casal representante (do mesmo sexo...), na arca, além de protestarem a seleção de apenas um animal de cada sexo, querem que eu inclua um terceiro, em cada casal”.

“A Receita Federal quebrou o meu sigilo bancário e telefônico e abriu um processo para confiscar todos os meus bens, pois está convencida que estou construindo a Arca para fugir do país e investiga se paguei o IPI, PIS, COFINS e a Contribuição Social sobre o lucro presumido, com os ingressos da Arca”.

“A Secretaria da Fazenda solicita o pagamento de ICMS, pois classificou a Arca como ‘veículo de recreação e entretenimento’, enquanto que o município quer cobrar ISS utilizando exatamente o mesmo raciocínio”.

“Finalmente, fui processado pela Associação de Liberdades Civis por um País LAICO, para que o trabalho na Arca fosse paralisado. A alegação deles é que o Dilúvio que estou anunciando é um evento religioso e que é inconstitucional, considerando a abrangência proposta do evento”.

“Não creio que possa terminar a Arca antes de uns 5 ou 6 anos”, choramingou Noé.

Noé olhou para o céu e viu a tempestade clareando. O mar começou a se acalmar. Um arco-íris formou-se de ponta a ponta. Noé levantou-se, esperançoso: “Isso quer dizer que a terra não vai mais ser destruída?” “Não”, exclamou a voz, “Os governantes já fizeram isso, completamente”!

Meu amigo acordou, suando...
Solano Portela

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