quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Batismo: uma Sepultura - nº 1627


Sermão pregado na manhã de Domingo, 
30 de outubro de 1881,
por Charles Haddon Spurgeon,

No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.
"Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristofomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.." (Romanos 6:3-4)
Que não se entre em controvérsia neste texto sobre o batismo, por mais que sobre ele alguns tenham levantado questões sobre o batismoinfantil e adulto, imersão ou aspersão. Se qualquer pessoa puder interpretar de maneira consistente e conclusiva este texto sem considerar que a imersão é o genuíno batismo cristão, eu realmente gostaria de ver como ela o faz. Eu mesmo sou bem incapaz de realizartal feito, e não imagino como fazê-lo. Eu me contento em aceitar o ponto de vista que o batismo significa um sepultamento dos crentes nas águas em nome do Senhor, e assim eu irei interpretar o texto.
Se alguém tem outra perspectiva, deveria ao menos se interessar em saber qual o significado que damos ao rito do batismo, e espero que eles não discordem do sentido espiritual apenas por diferirem do sinal externo. Afinal, o emblema visível não é o assunto proeminente no texto.
Que Deus Espírito Santo nos ajude a chegar ao ensino real. Eu não entendo que Paulo esteja dizendo que pessoas impróprias como os incrédulos, hipócritas, e enganadores que são batizados o sejam na morte de nosso Senhor. Ele diz "todos nós que", colocando-se com o
resto dos filhos de Deus. Ele pretende dizer que estes são os que tem direito ao batismo, e que a ele vem com seus corações em um estado correto. Sobre tais pessoas, Paulo diz, "ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?" Ele nem mesmo pretende dizer que todos aqueles que foram batizados por direito tiveram completo entendimento do seu significado espiritual;pois, se o tivessem, não haveria necessidade da pergunta: "Ou não sabeis?" Parece que havia alguns batizados que não sabiam realmente o significado de seu próprio batismo. Eles tinham fé, e uma quantidade de conhecimento suficiente para torná-los dignos recebedores dobatismo, porém não haviam sido corretamente instruídos na doutrina do batismo; talvez só estivesse enxergando no batismo o aspecto da lavagem, mas ainda não discerniram a característica do enterro.
Eu irei além, ao questionar se algum de nós conhece de maneira plena o significado das ordenanças que Cristo instituiu. Até agora somos como crianças brincando na praia em relação às coisas espirituais, enquanto o oceano está diante de nós. O melhor que podemos fazer é entrar no mar só até a altura dos joelhos, como nossos filhos fazem.
Poucos de nós estamos aprendendo a nadar; e quando aprendemos, só nadamos até onde podemos pisar os pés em segurança. Quem de nós jamais perdeu de vista a praia e nadou no Atlântico do amor divino, onde a verdade profunda está realmente no fundo, e o infinito é o que se vê ao redor?
Oh, que Deus nos ensine diariamente aquilo que já sabemos em parte, e que a verdade que vimos de forma embaçada venha a nós de forma mais clara, até vermos tudo como que na presença da total luz do sol.
Isso só pode ocorrer se nosso caráter se tornar mais claro e puro; poisvemos de acordo com o que somos; e tal como é o nosso olho, assim também é como vemos. O puro de olhos só pode ver um Deus Santo e Puro. Seremos como Jesus quando o virmos como Ele é (I João 3:2), e certamente não o veremos como Ele é até sermos como Ele. Nas coisas celestiais nós O vemos tanto quanto nós O temos em nós mesmos.Aquele que comeu a carne e o sangue de Cristo  espiritualmente é o homem que pode vê-lO na santa ceia, e aquele que foi batizado em Cristo vê Cristo no batismo. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância (Mateus 25:29).
O batismo anuncia a morte, sepultamento e a ressurreição de Cristo, e também nossa comunhão com Ele. Seu ensino tem dois pontos.
Primeiro, pensem na união representativa com Cristo, de tal forma que, quando nosso Senhor foi morto e enterrado, foi para nosso próprio benefício, e desta forma fomos enterrados com Ele. Isso nos ensina do batismo na medida que declara abertamente uma crença. Declaramos através do batismo que cremos na morte e Jesus, e desejamos comungar de todo Seu mérito. Mas há outro assunto tão importante quanto este: trata-se da realização da nossa união com Cristo, que é demonstrada por meio do batismo, não tanto como uma doutrina da nossa confissão, mas como uma experiência nossa. Há um tipo de morte, de sepultamento, de ressurreição, e de viver em Cristo que deve se apresentar em todos nós que realmente somos membros do corpo de Cristo. I Primeiramente, então, eu gostaria que você pensasse em NOSSA UNIÃO REPRESENTATIVA COM CRISTO como é estabelecida no batismo como uma verdade a ser crida. Nosso Senhor Jesus é o substituto do Seu povo, e quando Ele morreu foi para o bem desse povo e em seu lugar. A grande doutrina da nossa justificação depende disso, que Cristo tomou nossos pecados, ficou em nosso lugar, e como nosso procurador sofreu, sangrou, e morreu para apresentar em nosso luga rum sacrifício pelo pecado. Nós devemos nos lembrar dEle, não como uma pessoa privada, mas como nosso representante. Somos enterrados com Ele no batismo até a morte para mostrar que O aceitamos como sendo para nós morto e enterrado.
O Batismo como um enterro com Cristo significa, primeiro, aceitar a morte e sepultamento de Cristo como sendo para nós. Vamos fazer isso agora mesmo com todo o nosso coração. Que outra esperança temos?
Quando nosso Divino Senhor desceu das alturas da glória e tomou sobre si a nossa humanidade, Ele se tornou um comigo e com você; e, tendo sido achado em forma humana (Filipenses 2:7), ao Pai agradou colocar o pecado sobre Ele, até mesmo os seus e os meus pecados (Isaías 53). Você não aceita essa verdade, e concorda que o Senhor Jesus deve ser o sofredor da nossa culpa, e permanecer em pé em seu lugar à vista de Deus? "Amém! Amém!" digam todos vocês.
Ele subiu ao madeiro carregado com toda essa culpa, e lá Ele sofreu em nosso lugar e legalmente foi penalizado como nós deveríamos sofrer.
Agradou ao Pai, ao invés de moer a nós, moê-lO. Ele O pôs para sofrer, fazendo sua alma uma oferta pelo pecado. Não aceitamos gratos a Jesus como nosso substituto? Oh amados, tendo sido batizados nas águas ou não, eu coloco essa questão diante de vocês: "você aceita o Senhor Jesus como seu representante substituto?" Pois se não O aceitam, vocês devem sofrer a própria culpa e carregar seu próprio sofrimento, e estar de pé no seu próprio lugar diante do olhar da justiça irada de Deus. Muitos de nós dizemos no mais profundo do coração – 
"Minha alma se volta para ver
O sofrimentos que Tu suportaste,
Quando segurado na maldita árvore,
E espera que sua culpa esteja lá"
Agora, sendo sepultados com Cristo no batismo, selamos que a morte de Cristo foi em nosso  benefício, e que estávamos com Ele, e morremos nEle, e, como prova de nossa fé, consentimos na tumba de água, e nos deixamos ser sepultados de acordo com Seu mandamento. Esse é um fato de fé fundamental – Cristo morto e sepultado por nós; em outras
palavras, substituição, procuração, sacrifício vicário. Sua morte é a base da nossa segurança: não somos batizados no Seu exemplo, ou em Sua vida, mas em Sua morte. Aqui nós confessamos que toda a nossa salvação depende da morte de Jesus, cuja morte nós aceitamos como tendo acontecido por nosso benéficio. Mas isso não é tudo; pois se eu devo ser sepultado, não deve ser tanto porque eu aceito a morte substitutiva de outro por mim , mas por qué eu mesmo estou morto. Batismo é um reconhecimento de nossa própria morte em Cristo. Mas porque um homem vivo deveria ser enterrado? Porque ele deveria ser enterrado porque outro morreu em seu benefício?
Meu sepultamento com Cristo não significa somente que Ele morreu por mim, mas que eu morri nEle, de tal forma que minha morte com Ele precisa de um enterro com Ele. Jesus morreu por nós porque ele é um conosco (João 17:11, 21).
O Senhor Jesus Cristo não tomou sobre si os pecados do Seu povo por uma decisão arbitrária de Deus; mas era totalmente natural e próprio que Ele deveria tomar os pecados do Seu povo, pois eles são Seu povo, e Ele é sua cabeça definitiva. Era necessário Cristo sofrer por esta razão – que Ele era o representante do Seu povo pela aliança. Ele é a Cabeça do corpo, a Igreja; e se os membros pecaram, entende-se que a Cabeça, ainda que não tenha pecado, deva sofrer as consequências das ações do corpo. Assim como há um relacionamento natural entre Adão e aqueles que estão em Adão, assim há também entre o segundo Adão e os que estão nEle (Romanos 5:12-21). Eu aceito o que o primeiro Adão fez em relação ao meu pecado. Alguns de vocês podem discordar disto, e com toda a dispensação do pacto, sequiserem; mas como agradou a Deus colocar as coisas dessa forma, e eu sinto os efeitos disso, eu não vejo uso algum para a minha discórdia com isso. Tal qual aceito o pecado do pai Adão, e sinto que eu pequei com ele, assim também com alegria intensa aceito a morte e sacrifício pela culpa de meu segundo Adão, e me regozijo que nEle eu morri e ressuscitei. Eu vivi, eu morri, eu guardei a lei, eu satisfiz a justiça através da aliança da Cabeça. Deixe-me ser enterrado no batismo que eu mostrarei a todos em volta que eu creio que eu era um com meu Senhor na morte e enterro pelo pecado. Olhem para isso, ó filhos de Deus, e não temam. Essas são grandes verdades, seguras e confortantes. Vocês estão entre as grandes ondas do Atlântico agora, mas não tenham medo. Percebam o efeito
santificador dessa verdade. Suponha que um homem seja condenado à morte por causa de um grande crime; suponha, aliás, que ele morreu por aquele crime, e agora, por alguma obra maravilhosa de Deus, após ter sido morto, ele foi vivificado de novo. Ele está novamente entre os homens, como ressurreto dentre os mortos, e qual é o estado de sua consciência quanto à sua ofensa? Ele irá cometer aquele crime de novo?Um crime pelo qual ele morreu? Eu digo enfaticamente: Deus proíba. Ele certamente dirá: "eu provei da amargura desse pecado, e eu fui miraculosamente levantado da morte que me sobreveio, e revivi; agora eu odiarei aquilo que me matou, e o abominarei com toda a minha alma." Aquele que recebeu o pagamento do pecado deve aprender como evitá-lo no futuro. Mas, você responde que "nós nunca morremos assim. Nunca fomos obrigados a pagar a dívida do nosso pecado." Correto. Mas aquilo que Cristo fez por você vem a ser a mesma coisa, e o Senhor olha para isso como a mesma coisa. Você é então um com Jesus, de tal forma que você deve considerar a morte dEle como a sua morte; Seus sofrimentos como o castigo que lhe traz a paz (Isaías 53: 5). Você morreu na morte de Jesus, e agora por uma graça estranha e misteriosa você é resgatado do poço de corrupção (Salmo 40:1-2) para uma vida nova. Como você poderia voltar novamente ao pecado? Você viu o que Deus pensa do pecado: você percebe que Ele o abomina totalmente; pois quando foi posto sobre Seu Filho Amado, Ele não O poupou, mas O pôs em sofrimentos e O levou à morte. Pode você, depois disso, voltar-se àquela coisa maldita que Deus odeia? Certamente, o efeito dos grandes sofrimentos do Salvador sobre seu espírito deve ser a santificação. Como viveremos para o pecado, nós que para ele morremos (Romanos 6:1-14)? Como podemos nós, que já passamos debaixo da maldição (Gálatas 3:13-14), e suportamos sua pesada punição, tolerar seu poder? Deveríamos voltar a esse mal assassino, vil, virulento, e abominável?
Não pode ser. A graça o proíbe. Que Deus não o queira. Essa doutrina não é a conclusão de todo o assunto. O texto nos descreve como sepultados, mas com a perspectiva de ressurreição. "Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo;" - com qual objetivo? - "para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos,assim também andemos nós em novidade de vida." Ser sepultado com Cristo! Para quê? Para que você permaneça morto para sempre? Não, mas agora onde Cristo está, você deve ir aonde Cristo for. Segure-se nEle, então: Ele vai, então primeiro ao sepulcro, mas depois segue para fora do sepulcro; pois quando a terceira manhã chegou, Ele levantou. Se você é de fato um com Cristo, você deve ser um com Ele e passar por tudo; Você será um com Ele na morte, e um com Ele no seu sepultamento, e então você virá a ser um com Ele em Sua ressurreição. Sou agora um homem morto? Não, bendito seja o Seu nome, pois está escrito que "porque eu vivo, vós também vivereis" (João 14:19). Fato é que eu estou morto em um sentido, "considerai-vos mortos". Mas não estou em outro pois "a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus" (Colossenses 3:3). E como um homem estaria absolutamente morto se ele tem uma vida oculta? Não; já que eu sou um com Cristo eu sou o que Cristo é: como Ele é um Cristo vivente, eu sou espírito vivente.Que coisa gloriosa é ter retornado dos mortos, porque Cristo nos deuvida. Nossa velha vida legal foi tirada de nós pela sentença da lei, e a lei nos vê como mortos (Romanos 7:1-6); mas agora recebemos uma nova vida, uma vida fora da morte, uma vida ressurreta em Cristo Jesus. A vida do cristão é a vida de Cristo. Não é a vida da primeira criação nossa, mas da nova criação a partir dos mortos. Agora, pois, andamos nós em novidade de vida (Romanos 6:4), frutificando para a santificação (Romanos 6:22), justiça, e alegria pelo Espírito de Deus. A vida na carne é para nós um obstáculo; nossa vida está no Seu Espírito. No melhor e mais elevado sentido, nossa vida é espiritual e celestial. Isso também é doutrina que deve ser guardada muito firmemente. Eu quero que vocês vejam a força disso; pois eu estou buscando resultados práticos nesta manhã. Se Deus deu a você e a mim uma vidainteiramente nova em Cristo, como pode essa  vida ser desperdiçada da mesma forma que a vida velha? Há o espiritual que quer viver como carnal? Como podem vocês que eram os servos do pecado, que foram libertos pelo sangue precioso, voltar à velha escravidão (Gálatas 5:1)? Quando vocês estavam na vida do primeiro Adão, vocês viviam em pecado, e o amavam; mas agora vocês foram mortos e enterrados, e feitos para andarem em novidade de vida: como pode ser que vocês estejam voltando aos rudimentos do mundo de onde o Senhor vos tirou? Se vocês vivem em pecado, vocês serão falsos na sua profissão de fé; pois vocês professarão estarem vivos para Deus (Romanos 6:11)? Se vocês andam na concupiscência, vocês vão pisar as doutrinas benditas da Palavra de Deus, pois elas levam à santidade e pureza. Você faria do cristianismo apenas uma palavra e um provérbio se, depois de tudo, vocês que saíram da morte espiritual exibissem uma conduta em nada melhor que a vida do homem comum, e um pouco superior à vida que você mesmo levava. Isso tudo visto que muitos de vocês que foram batizados disseram ao mundo "estamos mortos para o mundo, e fomos trazidos para uma nova vida". Nossos desejos carnais estão dessa forma vistos como mortos, pois agora vivemos numa ordem de vida totalmente nova. O Espírito Santo nos deu uma nova natureza, e por mais que estejamos no mundo, não somos dele, mas somos feitos novo homem, "criados em Cristo Jesus" (Efésios 2:10). Essa é a doutrina que pregamos a todo homem, que Cristo morreu e ressuscitou, e que Seu povo morreu e ressuscitou nEle. Dessa doutrina cresce a morte para o pecado e vida para Deus, e por cada ação e cada momento de nossas vidas ensiná-la a todos que nos veem. Não é esta uma doutrina preciosa? Ó, se vocês de fato são um com Cristo, o mundo deveria os achar se sujando? Deveriam os membros de uma Cabeça generosa e graciosa, invejarem e serem gananciosos? Deveriam os membros de uma  Cabeça gloriosa, pura e perfeita, ser depredados com as concupiscências da carne e com as vaidades de uma vida em vão? Se os crentes são de fato identificados com Cristo de forma tal que eles são Seu tudo, eles mesmos não deveriam ser santos?
Se nós vivemos em virtude pela nossa união com Seu corpo, como podemos viver como vivem os gentios? Como pode ser que tantos crentes professos exibam uma vida meramente mundana, vivendo para os negócios e o prazer, mas não para Deus, em Deus, ou com Deus?
Eles dão uma pitada de religião numa vida mundana, e esperam cristianizá-la. Mas não conseguirão. Eu sou chamado a viver como Cristo viveria em minhas circunstâncias; escondido em meu quarto ou no púlpito público, eu sou chamado a ser o que Cristo seria no mesmo caso. Eu sou chamado a provar aos homens que aquela união com Cristo não é ficção, nem sentimento fanático: mas que somos movidos pelos mesmos princípios e agimos pelos mesmos motivos.
Batismo é então, de fato, um credo, e vocês podem lê-lo nestas palavras: "unidos com Ele na semelhança da Sua morte, certamente, oseremos também na semelhança da Sua ressurreição."II Mas, em segundo lugar, UMA UNIÃO REAL COM CRISTO também acontece  no batismo, e isso é mais uma questão de experiência que dedoutrina.
 1. Primeiro, há a morte, e então uma questão de experiência atual do crente verdadeiro. "Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?". É contrário a todas as leis enterrar aqueles que ainda estão vivos. Enquanto não
morrerem, o homem não pode ter o direito de ser enterrado. Muito bem, então, o cristão está morto – morto, primeiro, para o domínio do pecado. Toda vez que o pecado lhe chamava, antes, ele respondia, "aqui estou eu, pois você me chamou." O pecado mandava em seus membros, e se o pecado dizia, "faça isso," ele o faria, como o soldado obediente ao seu centurião; pois o pecado mandava em todas as partes da sua natureza, e exercia sobre ele uma tirania suprema. Mas a graça mudou tudo isso. Quando nos convertemos nos tornamos
mortos para o domínio do pecado. Se o pecado nos chama agora, recusamos a ir para ele, pois estamos mortos. Se o pecado nos dá um comando nós não o obedecemos, pois estamos mortos para a sua autoridade. O pecado vem a nós hoje – ó, que ele não o faça – e acha em nós a velha corrupção que está crucificada, mas ainda não morta; porém, ele não tem domínio sobre nossa verdadeira vida. Bendito seja Deus, o pecado não pode reinar sobre nós, por mais que possa nos assediar e nos trazer mal. "Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça." Nós pecamos, mas sem
permissão. Com que tristeza olhamos para as nossas transgressões! Quão sinceramente nos empenhamos em evitá-las! O pecado tenta manter seu poder usurpador sobre nós; mas não o reconhecemos como soberano. O mal entra em nós como um intruso ou um estranho, e trabalha em triste confusão, mas não habita em nós sobre um trono; é alguém de fora, rejeitado, e não mais honrado com prazer. Estamos mortos para o reino do poder do pecado.
O crente, se espiritualmente sepultado com Cristo, está morto para o desejo de tal poder. "O quê!" diz você, "não têm os homens piedosos desejos de pecado?" De fato, eles têm. A velha natureza que há neles deseja o pecado; mas o homem verdadeiro, o ego real, deseja ser purgado de qualquer espécie ou traço de mal. A lei que opera em seusmembros corre para o pecado, mas a vida no coração constrange à santidade (Romanos 7:14-23). Eu posso falar honestamente, por mimmesmo, que meu desejo mais profundo de minha alma é viver uma vida perfeita. Se eu pudesse ter meu melhor desejo realizado, eu nunca pecaria de novo; e, apesar disso, eu consinto com o pecado de tal forma que me torno responsável quando transgrido, meu eu mais interior aborrece a iniquidade. O pecado é meu fardo, não meu prazer; minhamiséria, não meu deleite; pensando nisso eu clamo, "desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7:24).
No centro do nosso coração nosso espírito se inclina firmemente para o que é bom, verdadeiro e celestial, de tal forma que o homem real tem prazer na lei de Deus, e busca de todo coração o que é bom. Averdadeira tendência atual do desejo e vontade de nossa alma não é para o pecado, e o apóstolo não nos ensinou mera fantasia quandodisse, "Porque  aquele que está morto está livre do pecado" (Romanos 6:7). Além disso, em segundo lugar, estamos como que mortos à buscaintensa e aos objetivos de uma vida ímpia e pecaminosa. Irmãos, há entre vocês alguém que professa ser servo de Deus vivendo para si mesmo? Então vocês não são servos de Deus; pois aquele que realmente nasceu de novo vive para Deus: o objetivo de sua vida é a glória de Deus e o bem dos seus semelhantes. Esse é o prêmio colocado à frente do movido por Deus, e para isso ele corre. "Eu não corro para isso", diz um. Bem, então você não chegará ao destino desejado. Se você corre atrás dos prazeres do mundo e suas riquezas, você talvez alcance o prêmio de que está atrás, mas você não pode conquistar o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3:14). Eu espero que muitos de nós possamos dizer honestamente que estamos agora mortos para qualquer objetivo na vida, exceto a glória de Deus em Cristo Jesus. Estamos no mundo, e temos que viver como os outros homens vivem, levando para frente nosso negócio regular; mas tudo isso está subordinado em segundo plano, e não nos agarramos nisso; nossos alvos estão além de algo mutável. O vôo de nossa alma, como o da águia, está acima dessas nuvens: como aquele pássaro que do sol recebe luz nas rochas, que mesmo descendo às planícies, ainda assim seu prazer é planar buscando a luz, indo acima das nuvens negras de tempestade, e olhando para todas as coisas terrenas como inferiores. Semelhantemente nossa vida que nos foi dada graciosamente segue em frente e acima; não somos do mundo, e as questões do mundo não são aquelas em que nós gastamos a maioria das nossas forças.
Novamente, estamos mortos no sentido que estamos mortos para a orientação do pecado. A concupiscência da carne guia um homem para todos os lados. Ele determina seu curso pela pergunta, "o que é mais prazeroso? O que me dará mais gratificação imediata?" O caminho dos ímpios é traçado pela mão do desejo egoísta: mas vocês que são verdadeiros cristãos têm outro guia, vocês são liderados pelo Espírito em um caminho direito. Você pergunta, "o que é bom e o que é aceitável aos olhos do Altíssimo?" Sua oração diária é "Senhor, mostra me o que queres que eu faça". Vocês estão vivos para o ensino do Espírito, que os conduzirá a toda a verdade; mas vocês estão surdos, sim, mortos para os dogmas da sabedoria carnal, às oposições da filosofia, aos erros da orgulhosa sabedoria dos homens. Guias cegos que caem (Mateus 15:14) com suas vítimas na vala são evitados por vocês, que escolheram o caminho do Senhor. Que abençoado estado de coração é este! Eu creio, meus irmãos, que já o percebemos de todo! Conhecemos a voz do pastor, e não seguiremos o estranho (João 10:4-5). Um é o vosso professor, e submetemos nosso entendimento à sua instrução infalível.
Nosso texto deve ter tido um significado fortíssimo entre os romanos do tempo de Paulo, pois eles estavam mergulhados em todas as formas de vícios odiosos. Pegue um romano normal daquele período, e você o verá como um homem acostumado a gastar grande parte de seu tempo no anfiteatro, embrutecido pelas visões brutais de espetáculos sangrentos, nos quais gladiadores se matavam para divertir uma multidão de folga. Ensinados em tal escola, o romano era cruel o quanto se pode ser, e além disso feroz na satisfação de suas paixões. Um homem depravado não era considerado totalmente degradado; não somente nobres e imperadores eram monstros do vício, mas os professores públicos eram impuros. Quando aqueles que eram considerados como morais eram corruptos, você pode imaginar como eram os imorais. "Divirta-se; siga atrás dos prazeres da carne", essa era a regra da época.
O cristianismo introduziu um novo elemento. Veja um romano convertido pela graça de Deus! Que mudança há nele! Seu vizinho lhe diz, "você não estava no anfiteatro esta manhã. Como pôde perder a visão dos cem germânicos que arrancaram as entranhas uns dos outros?" "Não", ele diz, "eu não estava lá; eu não suportaria estar lá. Estou completamente morto pra isso. Se você me forçasse a estar lá, eu teria de fechar meus olhos, pois não poderia olhar para assassinato ser cometido por esporte!". O cristão não se acomodava em locais de licenciosidade; ele estava realmente morto para tamanha imundície. A moda e os costumes da época eram tais que os cristãos não conseguiriam consentir com eles, e assim eles se tornaram mortos para a sociedade. Os cristãos não somente não iam atrás do pecado público, mas eles falavam dele com horror, e suas vidas o repreendiam. Coisas que as multidões consideravam com alegria, e falavam exaltando-as, não davam prazer ao seguidor de Jesus, pois ele estava morto para taismales. Essa é a nossa confissão solene quando decidimos nos batizar. Falamos, por atos que são mais audíveis que palavras, que estamos
mortos para aquelas coisas em que os pecadores se deleitam, e queremos ser assim considerados.
2. O pensamento seguinte em batismo é a sepultara. Primeiro vem a morte, e então se segue o sepultamento. Agora, o que é o enterro, irmãos? Enterro é, antes de tudo, o selo da morte; é o certificado da perda. "Está tal homem morto?" diz você. Outro responde, "porque, meu caro? Ele foi enterrado há um ano". Há exemplos de pessoas enterradas vivas, e eu temo que isso aconteça com triste frequência no batismo, mas não é natural, e de forma alguma é a regra. Eu temo que muitostenham sido enterrados vivos no batismo, e tenham posteriormente  se levantado e saído da sepultura como estavam. Mas se o enterro é verdadeiro, é uma prova da morte. Se eu consigo dizer com verdade, "fui sepultado com Cristo trinta anos atrás", eu certamente estou morto. Certamente o mundo pensava assim, pois não pouco depois do meu
enterro com Jesus eu comecei a pregar o Seu nome, e então o mundo me teve como perdido, e disser: "ele fede". Começaram a dizer toda sorte de mal contra o pregador; mas quanto mais eu cheirava mal em suas narinas, mais eu me sentia melhor, pois tanto mais certamente eu estava morto para o mundo. É bom para o cristão ser ofensivo aos homens rebeldes. Vejo como nosso Mestre fedia na estima dos ímpios quando clamavam "crucifica-o! Crucifica-o!" por mais que nenhuma corrupção poderia chegar perto de Seu corpo santo, ainda assim Seu
caráter perfeito não era saboreado por aquela geração perversa. Deve haver, portanto, em nós a morte para o mundo, e alguns dos efeitos da morte, ou nosso batismo é vão. Tanto quanto o sepultamento é a prova da morte, então nosso enterro com Cristo é o selo de nossa mortificação para o mundo.
Mas o sepultamento é, a seguir, a manifestação da morte. Enquanto o homem está vivo, os que passam não sabem que ele está morto; mas quando acontece o funeral, e ele é levado pelas ruas, todos sabem que ele está morto. É isso que o batismo deve ser. A morte do crente para o pecado é inicialmente um segredo, mas por uma confissão aberta ele leva todos os homens a saberem que ele está morto com Cristo. Batismo é o rito funerário pela qual a morte para o pecado é abertamente estabelecida diante de todos os homens.
O sepultamento é também a separação da morte. O homem morto não está mais em sua casa, mas é colocado à parte como um não é mais contado entre os vivos. Um corpo não é uma companhia bem-vinda.
Mesmo o objeto mais amado depois de um tempo não pode ser tolerado quando a morte fez seu trabalho sobre ele. Mesmo Abraão, que ficou por tanto tempo unido a sua amada Sara, dé visto dizendo, "sepulte o morto de diante da minha face" (Gênesis 23:1-4). Tal é o crente quando sua morte para o mundo é totalmente conhecida: ele é má companhia na opinião dos mundanos, e eles o vêm como o estraga-prazeres. O verdadeiro santo é colocado em separado na mesma classe que Cristo, de acordo com Sua palavra, "Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós" (João 15:20). O santo é colocado fora do arraial (Hebreus 13:13) na mesma cova que seu Senhor; pois assim como Ele foi, assim somos nós também neste mundo. Ele está sepultado pelo mundo naquele único cemitério de fé, se assim o devo chamar, onde todos os que estão em Cristo estão juntamente mortos para o mundo, com o epitáfio para todos eles, "Porque já estais mortos, e a vossa vidaestá escondida com Cristo em Deus" (Colossenses 3:3). E a cova é o lugar – eu não sei de onde tirar uma palavra disso – da fixação da morte; pois quando um homem é morto e enterrado você 11jamais espera vê-lo voltando para casa novamente: tanto quanto este mundo está informado, morte e sepultamento são irreversíveis. Eles me dizem que espíritos andam pela terra, e todos nós vimos no jornal "Averdade sobre fantasmas", mas eu tenho minhas dúvidas neste assunto.
 Nas questões espirituais, entretanto, eu temo que alguns não estejam muito sepultados com Cristo, mas andam entre as tumbas. Me entristece muito que seja assim. O homem em Cristo não pode andar como fantasma, pois ele está vivo em outro lugar; ele recebeu um novo ser e, portanto, ele não pode andar murmurando e espiando entre oshipócritas que estão mortos a seu redor. Veja o que nosso capítulo fala sobre o Senhor: "sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos,já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus." (Romanos 6:9-10). Se de fato fomos vivificados das obras mortas nós jamais devemos voltar-nos a elas. Eu posso até pecar, mas o pecado não pode ter domínio sobre mim; eu posso ser um transgressor e ir longe do meu Deus, mas jamais eu poderia voltar à velha morte novamente. Quando a graça do meu Senhor me tomou, e me enterrou, ela forjou em minha alma a convicção que dali em diante e para sempre eu era para o mundo um homem morto.
Eu estou verdadeiramente grato em não ter comprometido isso, mas ter ido direto para fora. Eu desembainhei a espada, e lancei fora a bainha. Digam ao mundo que é melhor eles não tentarem nos buscar de volta, pois estamos tão estragados para ele como se estivéssemos mortos. Tudo que poderiam ter de nós seriam nossas carcaças. Digam ao mundo para não nos tentar mais, pois nossos corações estão mudados. O pecado pode encantar o homem velho dependurado na cruz, e ele deve até virar o seu olho luxuriante naquela direção, mas ele não pode seguir seu relance, pois ele não pode descer da cruz: O Senhor teve o cuidado de martelar bastante, e Ele pregou suas mãos e pés firmemente, de tal forma que a carne crucificada permanecerá no lugar de sofrimento e morte. Sendo isso também verdade, a genuína vida que está em nós não pode morrer, pois nasceu de Deus; nem pode habitar em tumbas, pois seu chamado é à pureza e alegria e liberdade; e a esse chamado se rende. Chegamos até a morte e o sepultamento; mas o batismo, de acordo com o texto, representa também a ressurreição: "como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida" (Romanos 6:4). Agora, note que o homem que está morto em Cristo, e sepultado com Cristo, é também levantado dentre os mortos em Cristo, e esse é um trabalho especial sobre ele. Nenhum morto está ressuscitado, mas o nosso Senhor mesmo é "as primícias dos que dormem" (I Coríntios 15:20). Ele é o primogênito dos mortos (Colossensses 1:18). A Ressurreição foi uma obra especial no corpo de Cristo pela qual Ele foi levantado, e aquela obra, que começou na cabeça, vai continuar até todos os membros serem co-participantes, pois: "Apesar de nossos pecados exigirem Que nossa carne se tornar pó; Ainda assim como Senhor nosso Salvador se levantou, E assim farão todos os que o seguem" Pois para nossa alma e espírito, a ressurreição começou em nós. Nãochegou a nossos corpos ainda, mas será dada a eles no dia determinado. No presente um trabalho especial foi forjado sobre nós pelo qual fomos levantados dentre os mortos. Irmãos, se vocês tivessem morrido e sido sepultados, e tivessem ficado deitados por uma noite, digamos, no Cemitério Woking, e se uma voz divina lhe chamasse diretamente para fora da cova quando as estrelas silenciosas ainda brilhavam no céu aberto – se, digo eu, vocês tivessemos se levantado definitivamente do monte verde de relva, que se solitário deveria ser o vasto cemitério na noite escura! Como você poderia sentar na vala e esperar pela manhã! Essa é realmente a condição que diz respeito ao presente mundo mal. foi uma vez igual a todos os pecadores ao seu redor, morto em pecado (Efésios 2:1), e dormindo a cova encomendada pelo mal. O Senhor pelo Seu poder chamou você para fora de sua tumba, e agora você está vivo entre os mortos. Não pode haver amizade aí para você, pois, que comunhão pode haver entre os vivos e os mortos? Os homens lá no cemitério que acabaram de ser chamados não achariam ninguém no meio dos mortos com quem pudessem conversar, e não poderão achar companhia neste mundo. Ali jaz uma caveira, mas ela não pode ver pelos buracos dos olhos; nem tampouco há discurso vindo de sua boca cruel. Eu vejo uma massa de ossos depositados no canto: o que vive olha para eles, mas eles não podem ouvir ou falar. Imagine-se lá. Tudo que você poderia dizer aos ossos seria perguntar, "poderão viver estes ossos secos?" (Ezequiel 37:3). Você seria um estrangeiro nessa casa de corrupção, e você desejaria sair o quanto antes de lá. Essa é sua condição no mundo: Deus te levantou dentre os mortos, e da companhia com a qual você tinha regularmente suas conversações.
Agora, eu clamo a vocês, não volte e cave na terra, para abrir as covas e achar um amigo lá. Quem tiraria a tampa de um caixão e clamaria: "venha, você deve beber comigo! Você deve ir ao teatro comigo!" Não, nós abominamos a ideia de associarmo-nos com a morte, e eu tremo ao ver um cristão professo tentar ter comunhão com homens mundanos. "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo" (II Coríntios 6:17). Vocês sabem o que aconteceria a você caso depois de ter sido levantado, e fosse forçado a sentar perto de umcorpo morto recentemente tirado da cova. Você clamaria: "eu não posso suportar isso; não posso aguentar isso"; você preferiria estar do lado oposto do vento em relação ao corpo horrendo. Assim também com o homem que está realmente vivo para Deus: atos de injustiça, opressão, ou impureza ele não pode suportar; pois a vida se opõe à corrupção.
Note que, assim como fomos levantados por um trabalho especial de entre os mortos, esse levantar é pelo poder de Deus. Cristo foi trazido novamente "dos mortos pela glória do Pai." O que isso significa? Porque não disse, "pelo poder do Pai"? Ah, amados, glória é uma palavra maior; pois todos os atributos de Deus são exibidos em toda sua pompa solene na ressurreição de Cristo dentre os mortos. Lá havia a fidelidade do Senhor; não havia Ele declarado que o ressuscitaria dos mortos (Isaías 55:3), e que não permitiria que o Seu Santo visse corrupção (Salmo 16:10)? Não foi o amor do Pai visto nisso? Eu estou certo de que houve um deleite no coração de Deus ao trazer de volta a vida ao corpo de Seu Filho amado. E assim, quando eu e você somos tirados de nossa morte em pecados, não é meramente o poder de Deus, não é meramente a sabedoria de Deus que é vista, é a "glória do Pai".
Oh, pensar que cada filho de Deus que foi chamado foi chamado pela"glória do Pai". Exigiu  não somente o Espírito Santo, a obra de Jesus e a obra do Pai, mas a própria "glória do Pai". Se a menor centelha de vida espiritual tem de ser criada pela "glória do Pai", qual será a glória daquela vida quando chegar à perfeição plena, e quando formos como Cristo, e vê-lo como Ele é (I João 3:2)! Oh amados, tenham em alta conta a nova vida que Deus lhes deu. Pensem nela em lhes tornando mais ricos do que se vocês tivessem um mar de pérolas, mais do que se vocês tivessem descendido do mais elevado dos príncipes. Há em você aquilo que requer todos os atributos de Deus para vir a existir. Ele poderia fazer um mundo somente com poder, mas você deve ser levantado de entre os mortos pela "glória do Pai". Note a seguir que essa vida é algo inteiramente novo. Nós somos chamados a andar em "novidade de vida". A vida de um cristão é algo inteiramente diferente da vida de outros homens, totalmente diferente da sua própria vida antes de sua conversão, e quando as pessoas tentam falsificá-la, eles não conseguem. Uma pessoa lhe escreve uma carta e quer que você acredite que ele é um crente, mas dentro de uma meia-dúzia de sentenças aparece uma linha que trai o impostor. O hipócrita copiou suas expressões de maneira ordenada, mas não totalmente. Há uma maçonaria entre nós, e o mundo olha-nos de fora por um pouco, e aqui e ali eles tomam algunsde nossos símbolos; mas há um símbolo privado, que eles nunca conseguirão imitar, e assim em certo ponto eles se quebram. Um ateu pode orar tanto quanto um cristão, ler tanto a Bíblia quanto um cristão, e mesmo ir além de nós no exterior; mas há um segredo que ele não sabe e não consegue falsificar. A vida divina é uma novidade tão grande que o irregenerado não tem uma cópia com que trabalhar. Em todo cristão ela é tão nova como se ele fosse o primeiro cristão. Ainda que em todos haja a imagem e a inscrição de Cristo, ainda há uma borda branqueada ou algo dessa prata verdadeira que esses falsificadores não podem copiar. É algo novo, uma história, algo fresco de Deus.
E, por último, essa vida é algo ativo. Eu já desejei que Paulo não tivesse sido tão rápido enquanto o lia. Seu estilo viaja em botas de sete léguas. Ele não escreve como um homem qualquer. Eu realmente gostaria de dizer a ele que se ele tivesse escrito este texto na ordem apropriada,deveria ser, "Como Cristo foi levantado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também devemos ser levantados". Mas veja; Paulo puloutanto assunto enquanto  falamos: ele chegou a "andemos". O andar inclui a vida, que o simboliza, e Paulo pensa tão rápido quando o Espírito de Deus está sobre ele que ele passou direto da causa para o efeito. Tão logo recebemos a nova vida nos tornamos ativos: não sentamos e dizemos, "eu recebi uma nova vida: quão grato eu devo estar.
Eu vou na quietude usufruir disso". Oh, queridos, não. Nós temos de fazer algo diretamente enquanto estamos vivos, e começamos a andar, eassim o Senhor mantém-nos durante toda a  nossa vida em Sua obra; ele não nos permite ficar sentados contentes com o mero fato de
vivermos, nem permite que gastemos nosso tempo examinando se vivemos ou não; mas nos dá uma batalha para lutar, e a seguir outra; Ele nos dá Sua casa para construir, Sua fazenda para arar, Seus filhos para cuidar, e Suas ovelhas para alimentar.
Às vezes temos tempos de lutas ferozes com nosso próprio espírito, e tememos que o pecado e Satanás irão enfim prevalecer, até que nossa vida será dificilmente reconhecida, mas é sempre reconhecida pelos atos. A vida que é dada àqueles que estavam mortos, com Cristo, é uma vida enérgica, forte, que está sempre ocupada para Cristo, e, se pudesse, moveria céus e terra para sujeitar todas as coisas àquele que é sua Cabeça. Essa vida Paulo nos diz que não tem fim. Uma vez recebida, nunca sairá de você. "havendo Cristo ressuscitado dos mortos já não morre; a mortenão mais terá domínio sobre ele". É também  uma vida que não está maisdebaixo do pecado ou da lei. Cristo veio sob a lei enquanto  estava aqui (Gálatas 4:4), e teve os nossos pecados sobre si (Isaías 53:6), e assim morreu; mas depois que Ele ressuscitou não havia mais pecado sobre Ele. Em Sua ressurreição tanto o pecador quanto o Fiador estão livres.
O que Cristo teve de fazer depois de ressuscitar? Carregar mais pecados (Hebreus 7:27)? Não, mas simplesmente viver para Deus. É aí onde eu evocê estamos. Não temos pecados  mais para carregar; está tudo sobre Cristo. O que temos de fazer? Toda vez que tivermos uma dor de cabeça, ou nos sentirmos enfermos, clamaremos, "essa é a punição pelo meu pecado?" Nada disso. Nossa punição foi plenamente satisfeita, pois recebemos a sentença capital, e estamos mortos: nossa nova vida deve ser para Deus.
"Tudo o que resta para mim
É somente amor e canção,
E esperar a vinda dos anjos
Para me levar aos céus."

Eu tenho agora que servi-lO e ter prazer nEle, e usar o poder que Ele me deu para chamar outros dos mortos, "desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14). Eu não vou voltar à cova da morte espiritual nem ao meu caixão de pecado;mas pela graça divina vou continuar a crer em Jesus, e ir de força em  força, não debaixo da lei, não temendo o inferno, nem esperando merecer o céu, mas como uma nova criatura (II Coríntios 5:17), amando por ter sido amado primeiro (I João 4:19), vivendo para Cristo poisCristo vive em mim (Gálatas 2:19-20), ardentemente esperando a glória que será revelada (Romanos 8:18) em virtude da minha união com Cristo. Pobre pecador, você não sabe nada sobre essa morte e sepultamento, e nunca saberá até que você tenha o poder de ser chamado filho de Deus (João 1:12), que Ele dá a todos os que crêem no Seu nome. Creia no Seu nome, e será todo seu. Amém e amém.
PORÇÃO DAS ESCRITURAS LIDA ANTES DO SERMÃO – Romanos 6
ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM
CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA
IGREJA
FONTE: http://www.spurgeongems.org/vols25-27/chs1627.pdf
Traduzido do inglês, do original "Baptism – a Burial"
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio
público
Sermão nº 1627—Volume 27 do Metropolitan Tabernacle Pulpit
Tradução: Daniel Campos
Revisão: Marcus Paolo Del Rio
prova:Armando Marcos Pinto
Projeto Spurgeon - Proclamando a Cristo crucificado.
Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado
Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo
poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos
de seus pecados.
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domingo, 20 de julho de 2014


Você Pergunta: Já faz um bom tempo que tenho tido alguns sofrimentos em minha vida, principalmente na área financeira. Sempre busco a Deus pedindo que me liberte desse sofrimento, mas nada acontece. Estou desanimada, como posso manter a minha fé em Deus se Ele permite que eu sofra? Ele é o todo poderoso, poderia acabar com meu sofrimento agora mesmo! Por que não faz isso?
Cara leitora, a palavra mais forte do seu depoimento é sofrimento. Uma palavra que deixa qualquer ser humano de cabelo em pé. Isso porque amamos os prazeres e as sensações que nos trazem o máximo de bem estar possível. Costumamos rejeitar grande parte dos sofrimentos que passamos na vida e taxá-los de algo ruim, de algo que não pode vir de um Deus bom. Inclusive, costumamos associar as bênçãos de Deus apenas com coisas que achamos “boas” ou “prazerosas” para nós, ou seja, que não nos tragam qualquer tipo de sofrimento.
Como confiar em um Deus que permite que eu sofra?
Logo, pela lógica humana, é bem estranho confiar em um Deus que permite que eu sofra estando em Suas mãos o proporcionar aquilo que me agrada! Daí surge a questão: como posso ter fé em um Deus que me permite sofrer? Como sempre a Bíblia coloca as questões nos seus devidos lugares. Vejamos juntos:
(1) Na Bíblia vemos narrados diversos tipos de sofrimentos passados tanto por ímpios quanto pelo próprio povo de Deus. As causas mais comuns apresentadas pela Bíblia são a justiça de Deus sobre povos ímpios, a correção de Deus sobre seu povo quando este está desviado do Seu caminho e o ensino de Deus para o crescimento dos Seus servos. Ou seja, vemos claramente que o sofrimento nunca é apresentado na Bíblia como um capricho de Deus para com os homens. O sofrimento sempre tem motivo e objetivo, logo, não podemos olhar para o sofrimento apenas com um olhar de maldição como se ele fosse algo que não pudesse existir na vida daqueles que têm fé em Deus, como se ele fosse incompatível com as bênçãos de Deus.
(2) Falando mais especificamente sobre o sofrimento na vida dos servos de Deus (que é o seu caso), vemos se repetir muito na Bíblia um título muito importante atribuído a Deus: Pai. Esse título diz muito. Isso porque o pai (terreno) tem a função principal (e mais difícil) de educar, de edificar o filho inexperiente e torná-lo uma pessoa de bem (pelo menos é isso que se espera). Para realizar tal tarefa o pai precisará dizer muitos nãos ao filho, precisará discipliná-lo quando este agir erroneamente, precisará cobrar dele atitudes corretas, etc. Precisará ser pai. Tudo isso certamente trará sofrimentos ao filho, isso é fato, pois o filho deseja em seu coração receber somente aquilo que gosta do pai. Mas se o pai der ao filho somente o que ele gosta não cumprirá sua missão para com o filho, antes, criará um monstro. Deus é o nosso Pai maior, por isso, não criará monstros, antes nos dará aquilo que precisamos para crescermos, ainda que isso nos traga sofrimentos. Veja o que a Bíblia diz: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb 12. 7)
(3) A grande chave para lidar com o sofrimento é como o encaramos. Se o encararmos sendo algo que vem de Deus (nosso Pai) com algum propósito, certamente conseguiremos extrair do sofrimento algo de valor, exatamente o que Deus deseja que extraiamos, conforme nos ensina a Palavra: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.” (Hb 12.11).
(4) Não podemos negar que algumas vezes sofremos sem compreender muito bem o porquê daquele sofrimento. Foi o caso de Jó, que é descrito como sendo um homem íntegro e reto e que em nossa visão não mereceria o sofrimento que viveu. O que chama a atenção é que Jó não blasfemou contra Deus mesmo em meio a um sofrimento ímpar, e ao final de todo o terrível sofrimento que passou, vemos que ele declara certa compreensão do que aprendeu com todo aquele sofrimento, ainda que não soubesse os reais motivos: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.” (Jó 42. 5). Jó aprendeu algo. Tirou algo de positivo do seu sofrimento. Essa é a forma bíblica de passar pelo sofrimento, mesmo aqueles que não compreendamos bem.
(5) Assim, concluo que é essencial termos fé no Deus que permite que soframos. Essa fé nos levará a compreender e atingir o objetivo de Deus em nosso sofrimento. E essa atitude é louvada na Bíblia, conforme vemos em Isaías 26.16: “SENHOR, na angústia te buscaram; vindo sobre eles a tua correção, derramaram as suas orações.”. Revoltar-se contra Deus e permitir que a nossa fé se esfrie só trará mais sofrimentos, o que ninguém deseja, nem o Pai. Ao contrário, o sofrimento deve nos fazer mais fortes conforme bem observou Paulo: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2Co 12. 10).

Resenha Franklin Ferreira

Resenha
Franklin Ferreira

GEISLER, Norman. Eleitos, mas livres: uma perspectiva equili­brada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. São Paulo: Vida, 2001. 284p. Tradução de Heber Carlos de Campos do original inglês Chosen butfree (1999).

Norman Geisler é relativamente conhecido no contexto evangélico brasileiro. Dentre suas obras traduzidas para o português encontramos: Ética cristã e Introdução à filosofia: uma perspectiva cristã (Vida Nova), Resposta às seitas (CPAD), Reencarnação (Mundo Cristão) e Amar é sem­pre certo (Candeia).
A mais recente publicação de Geisler em português é intitulada Elei­tos, mas livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o li­vre-arbítrio. O livro tem oito capítulos principais e doze apêndices. Na primeira parte, Geisler lida com o problema da soberania de Deus e da liberdade humana, apontando as alternativas clássicas (calvinismo e arminianismo) e propondo sua visão do assunto, que ele assume como "calvinismo equilibrado" (em contraposição ao denominado "calvinismo extremado"). Seus capítulos finais tratam do "arminianismo extremado", terminando com um apelo à moderação. Seus apêndices cobrem uma am­pla gama de estudos históricos e teológicos ligados ao tema do livro.O leitor familiarizado com temas teológicos rapidamente percebe que esse trabalho é qualquer coisa menos uma "visão equilibrada" da eleição. Eleitos, mas livres apresenta uma forma de arminianismo disfarçado. O livro tem três problemas principais. O primeiro é a tentativa descarada do autor de redefinir a terminologia teológica tradicional. Por exemplo, em seu entendimento, "calvinista extremado é alguém que é mais calvinista do que João Calvino (1509-1564), de cujos ensinos vem o termo. Visto ser possível argumentar que João Calvino não cria na expiação limitada [...], segue-se que todos os que o fazem são calvinistas extremados" (p. 63). Ele assume que há uma descontinuidade dentro da tradição reformada, seguindo a controversa tese de R. T. Kendall (mencionado numa nota de rodapé na p. 177), mas em nenhum lugar ele interage com as refutações a essa argu­mentação (cf. as obras de Paul Helm, Calvin and calvinists, e o erudito trabalho de Joel Beeke, The quest forfull assurance, ambos lançados pela Banner of Truth, este último a ser lançado em português)!
Em seu apêndice sobre Calvino (ap. 2), ele se concentra apenas na questão do alcance da expiação (passando por cima dos comentários de Calvino que dariam margem a uma afirmação da expiação eficaz), sim­plesmente ignorando todo o ensino do reformador sobre eleição e respon­sabilidade moral. O mais irónico é que ele também não demonstra estar em acordo com essas formulações de Calvino!
O segundo problema que o leitor perspicaz achará é um fluxo quase contínuo de caricaturas relativas à posição de seus oponentes. E elogiável a bibliografia que Geisler usa, mas em nenhum momento ele interage seri­amente com suas fontes. Ele constantemente cita eruditos reformados do passado e do presente (tais como John Owen, William Ames e Jonathan Edwards, R. C. Sproul, John Piper e John Gerstner), mas muitas de suas citações são retiradas de contexto, não fazendo jus à argumentação dos escritos desses homens.
Por exemplo, em seu tratamento do entendimento de Edwards sobre o livre-arbítrio, ele cita um resumo da obra em que Edwards trata do as­sunto, e não a obra completa (p. ex., notas n. 2 e 5, cf. referência bibliográ­fica na p. 281)! Pior que isso é sua omissão em responder aos argumentos de Edwards, os quais têm sido considerados clássicos da filosofia. Parece que ele tenta responder aos argumentos de Sproul (que resume Edwards, em sua obra mencionada nas notas n. 1 e 4), e não a obra original! O leitor > atento acabará por ver as posições dos eruditos citados acima sendo mal interpretadas ou falseadas. Verá ainda que as notas de rodapé, algumas vezes, não têm ligação nenhuma com a declaração que supostamente de­veriam apoiar. Outro ponto importante que poderia ser mencionado é que Geisler precisou redefinir os cinco pontos do calvinismo antes que ele pudesse se denominar "calvinista moderado" (cf. cap. 7, especialmente p. 132).
O terceiro problema é uma negligência geral quanto à exegese, em favor de meras afirmações sem grande apoio nas línguas originais. Ainda que Geisler ofereça sua interpretação de muitos dos textos-chave do deba­te (geralmente sem considerar o contexto em que esses mesmos textos es­tão inseridos), poucas vezes ele interage com justiça com a interpretação dos reformados sobre eles. Muitas vezes, as exposições dos comentaristas reformados são simplesmente retiradas do contexto! Talvez quem mais sofra com isso seja o escritor batista John Piper. Num debate tão complexo como esse não são clichés que resolverão a tensão, mas a exegese. Logo, eu recomendaria enfaticamente o estudo atento dos comentários de Roma­nos, Gálatas, Efésios e Hebreus, de F. F. Bruce, John Stott, William Hendriksen e de João Calvino (todos em português). O melhor que o leitor pode fazer é conferir diretamente a interpretação que esses eruditos cris­tãos fizeram com o próprio texto bíblico.
E revelador também que, em nenhum lugar, Geisler oferece uma de­finição de livre-arbítrio. Ele apenas pressupõe sua existência e passa a buscar textos bíblicos que validem sua posição (observe, por exemplo, o ap. 4). Aliás, onde, nas Escrituras, é mencionado que o livre-arbítrio faz parte da imago Dei?
Quando Geisler menciona os perigos práticos do "calvinismo extre­mado" (que num lapso lógico esquisito passa a ser rotulado como hipercalvinismo), ele simplesmente repete clichés que têm sido academi-camente refutados. Ironicamente ele menciona o importante estudo de Iain Murray, Spurgeon v. hyper-calvinismo: the battle for Gospel preaching (Banner of Truth), mas usa-o fora do contexto, sem interagir com o con­teúdo do livro.
A tentativa de Geisler em refutar aquilo que ele rotula de "armi­nianismo extremado" é irónica. Nesse processo, ele tenta dar uma respos­ta à nova tendência que surgiu em certos círculos evangélicos norte-ame-ricanos, a partir do fim da década de 1980. Teólogos como Clark Pinnock e John Sanders têm defendido uma variante da teologia do processo, co­nhecida como "free will theism". Eles têm afirmado que Deus nem é sobe­rano nem tem conhecimento do futuro. Em última instância, o futuro é uma possibilidade aberta. Mas Geisler, em sua resposta ao novo movi­mento e, por causa de sua redefinição da soberania de Deus, para adequá-la à sua crença no livre-arbítrio, só pode se refugiar no irracionalismo con­tra as implicações filosóficas dessa vertente.
Permanece um mistério por que Geisler insistiu em redefinir uma ter­minologia que é comumente conhecida e aplicada por todos os lados en­volvidos no debate. Em lugar de clarificar a discussão, ele a nublou, o que não serve a nenhum propósito e, na pior das hipóteses, engana aqueles que não estão familiarizados com a discussão. O mais irritante é que seu livro é embalado por um discurso pretensamente lógico e filosófico. Do calvinismo histórico, Geilser só mantém a doutrina da perseverança dos santos. Ele teria prestado um grande serviço a seus leitores se admitisse simplesmente sua posição, em lugar de confundir o assunto com defini­ções artificialmente impostas.
Examinar e responder a cada inexatidão achada em Eleitos, mas li­vres requereriam o espaço de um outro livro. O que mais se aproxima de uma resposta confiável aos argumentos de Geisler talvez seja o livro So-berania banida, de R. K. McGregor Wright (Cultura Cristã). Embora men­cionado por Geisler duas vezes em seu livro, nenhuma interação é feita com tal obra. Para um bom estudo histórico honesto e erudito da contro­vérsia, o leitor encontraria subsídio no livro Sola Gratia, de R. C. Sproul (Cultura Cristã).
E lamentável que um autor que se propôs a defender a verdade (como de fato ele o faz em muitas outras obras) agora maquie a verdade para favorecer sua posição teológica. Talvez seja devido a essas evidentes fra­quezas que a comunidade evangélica norte-americana tenha dado tão pou­ca atenção e importância a essa obra.

sábado, 19 de julho de 2014

"Contextualização” e a Corrupção da Igreja

25 09 2011
John MacArthur
Deveria ser claro que os “marketers” da igreja moderna não podem olhar para o Apostolo Paulo em busca de aprovação da sua metodologia ou reclama-lo como pai da sua filosofia. Apesar de ele ter ministrado para os mais vis pagãos por todo o mundo romano, Paulo nunca adaptou a igreja de acordo com os gostos da sociedade secular. Ele não se atreveria sequer a pensar alterar quer a mensagem quer a natureza da Igreja. Cada uma das igrejas que ele fundou tinham a sua personalidade e conjunto de problemas, mas os ensinamentos de Paulo, a sua estratégia, e acima de tudo a sua mensagem permaneceram imutáveis durante o seu ministério. O seu meio de ministrar foi sempre pregar – A proclamação directa das verdades bíblicas.
Em oposição, a “contextualização” do evangelho hoje em dia infectou a igreja com o espírito da idade. Escancarou as portas da igreja para o mundanismo, superficialismo, e em alguns casos grosseiros, uma atmosfera de “show”. Agora o mundo define os objectivos da igreja.
Isto é claramente demonstrado num livro do James Davison Hunter, professor de sociologia na Universidade da Virginia. Hunter entrevistou os alunos em colégios e seminários evangélicos, e concluiu que o Cristianismo evangélico mudou dramaticamente nas ultimas três décadas. Ele descobriu que os jovens evangélicos têm-se tornado significativamente mais tolerantes com actividades já vistas como mundanas e imorais – como fumar, utilizar Marijuana, ver filmes para maior de idade, sexo pré-matrimonial. Hunter escreveu,
   As fronteiras simbólicas que dantes definiam a propriedade moral para o protestantismo conservador perderam uma medida de clareza. Muitas das distinções que separavam a conduta cristã do “mundanismo” foram desafiadas senão mesmo destruídas. Até as palavras mundano e mundanismo em apenas uma geração perderam a maior parte do seu significado tradicional … o significado de mundanismo de facto perdeu a sua importância para a próxima geração de evangélicos. (Hunter, Evangelicalism: The Coming Generation, 63)
O que Hunter notou entre estudantes evangélicos é um reflexo do que aconteceu à igreja evangélica inteira. Muitos cristãos professos parecem importar-se mais com o que o mundo pensa deles do que o próprio Deus pensa deles. As igrejas estão tão empenhadas em tentar agradar aos descrentes que muitos se esqueceram que o seu primeiro objectivo é agradar a Deus (2 Cor. 5:9). A igreja foi tão sobre-contextualizada que tornou corrompida pelo mundo.
Tradução: Fábio Silva

Quem foi Jesus Cristo na opinião de Flávio Josefo (37-100dC)?

maio 26, 2011 por Testemunha de Cristo
Flávio Josefo é considerado como um dos maiores historiadores judeus de sua época, e além de escrever sobre a História dos Judeus e suas guerras, também escreveu sua autobiografia, na qual se descreve como filho de Matias o sacerdote judaico, nascido em Jerusalém, instruído pela torá e adepto do farisaísmo (JOSEFO, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp.476-495). O seu testemunho é importante, pois é provavelmente o único relato sobrevivente de uma testemunha ocular da destruição de Jerusalém.
Josefo é considerado como um revolucionário judeu que rendeu-se à supremacia romana trocando o suicídio pela lealdade a Roma. Por sua demonstração de lealdade, Vespasiano não apenas o recebeu como cidadão romano, mas o patrocinou como historiador.
No seu livro Antiguidade dos Judeus, que é normalmente datado na década de 90dC tem duas citações interessantes. A primeira faz clara referência a Tiago “irmão de Jesus chamado Cristo” (GEISLER, Norman, Não tenho fé suficiente para ser ateu – Vida, 2006, pp.227), veja:
“Anano, um dos que nós falamos agora, era homem ousado e empreender, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos os judeus e os mais rigorosos no julgamento. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não havia chegado, para reunir um conselho diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância das nossas leis” – (JOSEFO, Flavio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp.465)
Dois fatos são interessantes nessa citação: (1) Confirma uma clara declaração das escrituras: Jesus tinha um irmão chamado Tiago (Gl.1.19); (2) Ele era reconhecido como Cristo, outra afirmação clara das escrituras (Mt.16.16).
A segunda declaração de Josefo a respeito de Jesus é ainda mais explícita e por isso, muito controversa. Pouco antes da declaração supracitada, ele também afirma:
“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome” – (JOSEFO, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp.418)
Essa citação tem sido criticada como sendo impossível de ter sido proferida por um judeu-romano escrevendo sobre a história dos judeus. Normalmente apela-se par ao fato de que o texto acima é fruto de uma corrupção cristão tardia, especialmente pelo fato de que Orígenes (185-253dC) atesta que Josefo não aceitava a Messianidade de Jesus. Entretanto, essa declaração não é inteiramente verdadeira, observe a declaração de Orígenes:
“Tamanha era a reputação de Tiago entre as pessoas consideradas justas, que Flávio Josefo, que escreveu Antiguidade dos Judeus em vinte livros, quando ansiava por apresentar a causa pela qual o povo teria sofrido grandes infortúnios que até mesmo o tempo fora destruído, afirma que essas coisas aconteceram com eles de acordo com a Ira de Deus em consequência das coisas que eles se atreveram a fazer contra Tiago o irmão de Jesus que é chamado Cristo. E o que é fantástico nisso é que, apesar de não aceitar Jesus como Cristo, ele deu testemunho da justiça de Tiago” – (Orígenes, Origen’s Commentarary on Matthew, IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 9, pp.424)
Considerando o fato de que Orígenes atesta que Josefo o chama de Cristo (como vimos que o faz quando fala sobre Tiago), embora não o considerasse como tal, não é impossível que a citação seja de fato verdadeira. Porém, devemos reconhecer que algumas das declarações desse texto atribuído a Josefo parecem por demais cristãs para serem de um fariseu, e entendemos que não é à toa que tenha sido considerada uma interpolação.
Edwin Yamauchi, professor emérito de história na Universidade de Miami, comenta essa citação de Josefo e explica que é possível perceber onde estão as interpolações, ou supostas alterações cristãs tardias. Ele argumenta que era incomum para um cristão referir-se a Jesus Cristo apenas como um homem sábio, o que sugere que o texto nesse caso é de Josefo. Por outro lado, parece improvável que um judeu sugeriria que ele não era simplesmente um homem. Nesse caso, Yamauchi atesta que esse é um possível caso de interpolação cristã tardia. Sobre a expressão “Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios”, Yamauchi defende que está em conformidade com o estilo e vocabulário de Josefo, mas a conclusão “Ele era o Cristo” parece direta demais para um judeu (STROBEL, Lee, Em defesa de Cristo, Vida, 1998, 104).
Contudo, ainda que tal citação de Josefo possa ser tomada com algumas ressalvas, é importante lembrar que uma versão árabe do texto de Josefo no mesmo trecho, que embora tenha as partes mais criticadas ausentes, apresenta aspectos interessantes sobre Cristo, observe:
“Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à cruficicação e à morte. E aqueles que haviam sido seus discípulos não deixaram de seguí-lo. Eles relataram que ele lhes havia aparecido três dias depois da crucificação e que ele estava vivo [...] talvez ele fosse o Messias, sobre o qual os profetas relatavam maravilhas” – (GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética – Vida 2002, pp.449)
Após apresentar essa versão do texto de Josefo, em outro livro Geisler explica sua preferência por essa leitura:
“Existe uma versão dessa citação na qual Josefo afirma que Jesus era o Messias, mas a maioria dos estudiosos acredita que os cristãos mudaram a citação para que fosse lida dessa maneira. De acordo com Orígenes, em dos pais da igreja nascido no século II, Josefo não era cristãos. Desse modo, é improvável que ele pudesse afirmar que Jesus era o Messias. A versão que citamos aqui vem de um texto árabe que, acredita-se, não foi corrompido” – (GEISLER, Norman, Não tenho fé suficiente para ser ateu – Vida, 2006, pp.227)
Diante dessas informações, devemos ainda lembrar os leitores que a credibilidade de Josefo como historiador já foi colocada a prova diversas vezes. Em um provocativo livro chamado Jesus e Javé, o judeu ateu Harold Bloom logo de início apresenta sua visão acerca de Cristo e Josefo:
“Não há fatos comprovados acerca de Jesus de Nazaré. Os poucos fatos que constam na obra de Flávio Josefo, fonte da qual todos os estudiosos dependem, são suspeitos, pois o historiador era José bem Matias, um dos líderes da Rebelião Judaica, que salvou a própria pele por ter bajulado os imperadores da Dinastia Flaviana: Vespasiano, Tito e Domício. Depois que um indivíduo proclama Vespasiano como Messias, ninguém deve mais acreditar no que tal pessoa escreve a respeito do seu povo. Josefo, mentiroso inveterado, assistiu, tranquilamente à captura de Jerusalém, à destruição do Templo e à matança dos habitantes” – (BLOOM, Harold, Jesus e Javé, os nomes divinos – Objetiva, 2006, pp.31)
Nesse momento temos que fazer uma importante pergunta: “O que ganharia esse judeu traidor nacional em mencionar a figura de Jesus?”. Considerando o fato de que era financiado por Roma, era de se esperar que sua visão pudesse ter sido comprada pelos romanos e sua história tenha cedido em alguns lugares à tentação de ser conscientemente impreciso o que o levou a ganhar a fama de mentiroso inveterado.
Contudo, aos olhos de Roma, essa nova “religião” tinha claras tendências de ser facciosa ao Império em função do seu estranho conjunto de doutrinas e sua objetiva recusa de adorar ou a César ou aos deuses romanos. Com isso, era de se esperar que ele suprimisse qualquer evento, fato ou personagem que pudesse o colocar em oposição com seus patrocinadores.
Portanto, é evidente que não haveria qualquer ganho para Josefo em apresentar a pessoa de Jesus, e talvez, por essa mesma razão, é que ele tenha escrito tão pouco a seu respeito. Mas, ainda assim, com o testemunho de Josefo, nós podemos reconhecer algumas das características de Cristo e sua história, tal como contada pelos evangelistas:
(1) Jesus foi um homem considerado sábio;
(2) de bom comportamento e virtudes;
(3) tinha um irmão chamado Tiago
(4) teve muitos seguidores de diferentes nacionalidades;
(5) foi crucificado por Pilatos;
(6) por crucificação;
(7) nem por isso seus discípulos o abandonaram;
(8) eles relataram a ressureição de Cristo após três dias;
(9) além de uma possível relação com o Messias anunciado pelas escrituras hebraicas.

Ano 70 d.C. Tito destrói Jerusalém - História da Igreja





Erguido no fórum de Roma, o Arco de Tito celebra a vitória em JerusalémGéssio Floro amava o dinheiro e odiava os judeus. Como procurador romano, governava a Judéia e pouco se importava com as sensibilidades religiosas. Quando a entrada de impostos era baixa, ele se apoderava da prata do Templo. Em 66, quando a oposição cresceu, ele enviou tropas a Jerusalém para crucificar e massacrar alguns judeus. A ação de Floro foi o estopim para uma revolta que já estava em ebulição havia algum tempo.
No século anterior, Roma não tinha tratado os judeus de maneira adequada. Primeiramente, Roma havia fortalecido o odiado usurpador Herodes, o Grande. Apesar de todos os belos edifícios que construíra, Herodes não conseguiu lugar no coração das pessoas.
Arquelau, filho de Herodes e seu sucessor-, era tão cruel que o povo pediu a Roma que lhe desse um alívio. Roma atendeu a esse pedido enviando diversos governadores: Pôncio Pilatos, Félix, Festo e Floro. Eles, assim como outros, tinham a tarefa, nada invejável, de manter a paz em uma terra bastante instável.
O espírito independente dos judeus nunca morreu. Eles olhavam com orgulho para os dias dos macabeus, quando se livraram do jugo de seus senhores sírios. Agora, suas desavenças mesquinhas e o fabuloso crescimento de Roma os colocavam novamente sob o comando de mãos estrangeiras.
O clima de revolução continuou durante o governo de Herodes. Os zelotes e os fariseus, cada um à sua maneira, queriam que as mudanças acontecessem. O fervor messiânico estava em alta. Jesus não estava brincando quando disse que as pessoas falariam: "'Vejam, aqui está o Cristo!' ou Ali está ele!'". Esse era o espírito da época.
Foi em Massada (formação rochosa praticamente inexpugnável, que se eleva próximo ao mar Morto, onde Herodes construiu um palácio e os romanos ergueram uma fortaleza) que a revolta judaica teve seu início e um fim trágico.
Inspirados pelas atrocidades de Floro, alguns zelotes ensandecidos decidiram atacar a fortaleza. Para surpresa de todos, eles a conquistaram, massacrando o exército romano que estava acampado ali.
Em Jerusalém, o capitão do Templo, quando interrompeu os sacrifícios diários a favor de César, declarou abertamente uma rebelião contra Roma. Não demorou muito para que toda a Jerusalém ficasse alvoroçada, e as tropas romanas fossem expulsas ou mortas. A Judéia se revoltou, e a seguir a Galiléia. Por um breve período de tempo, parecia que os judeus estavam virando o jogo.
Céstio Galo, o governador romano da região, saiu da Síria com 20 mil soldados. Cercou Jerusalém por seis meses, mas fracassou, deixando para trás seis mil soldados romanos mortos e grande quantidade de armamentos que os defensores judeus recolheram e usaram.
O imperador Nero enviou Vespasiano, general condecorado, para sufocar a rebelião. Vespasiano foi minando a força dos rebeldes, eliminando a oposição na Galiléia, depois na Transjordânia e por fim na Idu-méia. A seguir, cercou Jerusalém.
Contudo, antes do golpe de misericordia, Vespasiano foi chamado a Roma, pois Nero morrera. O pedido dos exércitos orientais para que Vespasiano fosse o imperador marcou o fim de uma luta pelo poder. Em um de seus primeiros atos imperiais, Vespasiano nomeou seu filho, Tito, para conduzir a guerra contra os judeus.
A situação se voltou contra Jerusalém, agora cercada e isolada do restante do país. Facções internas da cidade se desentendiam com relação às estratégias de defesa. Conforme o cerco se prolongava, as pessoas morriam de fome e de doenças. A esposa do sumo sacerdote, outrora cercada de luxo, revirava as lixeiras da cidade em busca de alimento.
Enquanto isso, os romanos empregavam novas máquinas de guerra para arremessar pedras contra os muros da cidade. Aríetes forçavam as muralhas das fortificações. Os defensores judeus lutavam durante todo o dia e tentavam reconstruir as muralhas durante a noite. Por fim, os romanos irromperam pelo muro exterior, depois pelo segundo muro, chegando finalmente ao terceiro muro. Os judeus, no entanto, continuaram lutando, pois correram para o Templo — sua última linha de defesa.
Esse foi o fim para os bravos guerreiros judeus — e também para o Templo. Josejo, historiador judeu, disse que Tito queria preservar o Templo, mas os soldados estavam tão irados com a resistência dos oponentes que terminaram por queimá-lo.
A queda de Jerusalém, essencialmente, pôs fim à revolta. Os judeus foram dizimados ou capturados e vendidos como escravos. O grupo dos zelotes que havia tomado Massada permaneceu na fortaleza por três anos. Quando os romanos finalmente construíram a rampa para cercar e invadir o local, encontraram todos os rebeldes mortos. Eles cometeram suicídio para que não fossem capturados pelos invasores.
A revolta dos judeus marcou o fim do Estado judeu, pelo menos até os tempos modernos.
A destruição do Templo de Herodes significou mudança no culto judaico. Quando os babilônios destruíram o Templo de Salomão, em 586 a.C, os judeus estabeleceram as sinagogas, onde podiam estudar a Lei de Deus. A destruição do Templo de Herodes pôs fim ao sistema ‘sacrificai judeu’ e os forçou a contar apenas com as sinagogas, que cresceram muito em importância.
Onde estavam os cristãos durante a revolta judia? Ao lembrar das advertências de Cristo (Lc 21.20-24), fugiram de Jerusalém assim que viram os exércitos romanos cercar a cidade. Eles se recusaram a pegar em armas contra os romanos e retiraram-se para Pela, na Transjordânia.
Uma vez que a nação judaica e seu Templo tinham sido destruídos, os cristãos não podiam mais confiar na proteção que o império dava ao judaísmo. Não havia mais onde se esconder da perseguição romana